terça-feira, 30 de junho de 2009

Índios de Rondônia viajam à Europa para conhecer acervo recolhido em suas aldeias


Por Vanessa Farias

em 29/05/2009

Publicado no Diário da Amazônia

Porto Velho - RO

30/06/2009


Sete índios dos povos Aruá, Jabutí, Kanoé, Makurap e Tuparí, que vivem nas terras indígenas de Rio Branco e Guaporé, em Rondônia, embarcam neste sábado para a Suíça, onde terão a oportunidade de mostrar a cultura de cada etnia e trocar conhecimentos com pesquisadores suíços. A viagem no valor de aproximadamente R$ 70 mil está sendo financiada pelos museus etnográficos de Basiléia, na Suíça, de Viena, na Áustria; de Berlim, na Alemanha e do museu de Leiden, na Holanda. O intercâmbio é resultado de um projeto de recuperação de costumes indígenas realizado a longo prazo das duas terras indígenas. “Os museus possuem arquivos do ano de 1934, quando as pesquisas com esses povos começaram”, conta a fotógrafa e jornalista Gleice Mere que faz a intermediação há dois anos entre os índios e os pesquisadores suíços.Anísio Aruá, José Anderê Makurap, Marlene Tupari, Dalton Tupari, Analícia Makurap, José Augusto Kanoé e Armando Jabuti estão ansiosos para conhecer os objetos e registros fotográficos de seus antecedentes que estão guardados nos museus. “Além de querer conhecer os parentes dos homens que nos ajudaram no passado fazendo esses registros e levando a nossa cultura para outro país, nós queremos ver as fotos dos nossos pais e avós, identificar o nosso passado”, diz Marlene Tupari.O indígena José Anderê anseia por uma única expectativa. “Eu nem sei ler nem escrever, nem sei quantos anos de idade eu tenho, mas única coisa que quero é poder ver meus pais que eu não conheci. Tomara que tenha fotos deles por lá”, dispara. A filha, Analícia, estudou até a 4ª série do Ensino Fundamental e acredita que a viagem servirá para ampliar seus conhecimentos. “Nós vamos trocar experiências com pessoas que vivem em um país de primeiro mundo, e isso pode ser muito bom para o nosso conhecimento de vida”, declara.Cestos de olho de palha usados na aldeia para “guardar” as galinhas que vão chocar os ovos, roupas tradicionais, arcos e flechas são a contrapartida dos indígenas para os museus. “Eles precisam levar novos arquivos para o museu para enriquecer o material que já existe lá”, explica Gleice Mere. RegistrosEm 1934, o pesquisador suíço Emil-Heinrich Snethlage chegou à região do Guaporé, onde morou por seis meses coletando materiais para os museus, conhecendo os costumes dos povos e registrando a história das tribos da área. Em uma segunda viagem à região, Emil escreveu um diário de 1042 páginas que nunca foi publicado, gravou um filme mudo e sons de cânticos indígenas que são reconhecidos pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade. “Essa viagem vai marcar a gente, com o que vamos poder ver de diferente no trabalho que nossos avós e pais faziam, as fotos, as músicas. Tudo vai ser importante para nós”, enfatizou José Augusto Kanoé. Para aqueles que nunca saíram do Estado, um medo que não é maior do que a vontade de viajar é revelado. “Eu nunca viajei de avião. Dá um medo de imaginar, mas eu vou conseguir”, diz Marlene Tupari.Além de visitas aos cinco museus patrocinadores, está previsto também o encontro com as famílias dos pesquisadores que passaram pela região de Rio Branco e Guaporé, oficinas com crianças locais, apresentações de filmes sobre a Amazônia, dança e pintura indígena e o reconhecimento do acervo de objetos guardados nos museus. A chegada dos indígenas na Suíça está prevista para este domingo e o retorno da viagem será feito em 20 dias.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Arqueologia e povos indígenas: a construção de um diálogo sobre paisagem e manejo ambiental.


Quando falamos em sítios arqueológicos logo nos vêm a mente àqueles lugares cheios de cerâmicas quebradas, lascas de pedras, restos de fogueiras, etc.... Que estão lá sob um abrigo de rocha no meio de um mato, ou numa estrutura semisubterrânea na propriedade de algum morador da Serra, ou numa lavoura qualquer, onde um arado trouxe à tona vários objetos de ocupações antigas daquele lugar.
E lá vamos nós, arqueólogos, recolher, catalogar, limpar, guardar os caquinhos como se fossem um tesouro.
Mas, e o lugar onde estavam os objetos? Como recolher, lavar e guardar? Não há como e também, poucas vezes pensamos muito nisso, que esse lugar pode ter sido um objeto da cultura material de uma sociedade que hoje não está mais ali. E esse mesmo lugar, pode hoje ser parte da cultura material de outra sociedade – a lavoura do colono, por exemplo, a casa construída sob um antigo cemitério indígena....
Então as pessoas fabricam “lugares” como fabricam potes de cerâmica, ou facas de pedra, ou potes de plástico e enxadas? Sim, há uma finalidade social para a criação de uma roça e de uma lavoura, assim como a escolha do lugar onde se constituirá a casa e se fará um jardim.
São “objetos” humanos, nós construímos isso, uma paisagem passa a ser uma paisagem quando lhe designamos tal categoria, então esse lugar passa a ter significado para nós, humanos.
E isso se dá com todas as sociedades humanas, é o que chamamos patrimônio na linguagem ocidental e assim acrescentamos nomes, valores e designações sociais à natureza que passa a ser uma paisagem, um lugar...
O trabalho etnográfico junto aos Guarani tem se apresentado muito rico nesse sentido, já que a construção de “lugares”, de terra de mbyá – mbya retã – é recorrente entre nossos diálogos e pude perceber como a mão humana é freqüente na expansão de espécies de flora e fauna dentro da mata atlântica.
Os índios estão recuperando áreas, que se encontram esgotadas por causa do cultivo do eucalipto, com o replantio de nativas. E essas espécies são trazidas, muitas vezes, de longe para o território. Visitas de parentes, que vêm de outros estados e até de outros países, sempre são formas de que algumas espécies sejam remanejadas. As trocas de sementes de milho, mudas de fumo e outras espécies cultiváveis são recorrentes, mas há também a busca de espécies da flora nativa da mata atlântica, que são buscadas nos lugares onde se encontram pra repovoar os lugares de onde foram retiradas.
Essas práticas podem ser vistas como tradicionais entre esses povos, e nossa imaginação nos leva a pensar que no passado tais práticas também devam ter sido corriqueiras. Portanto os ecossistemas diversificados devem muito a ação antrópica, já que o homem faz parte da natureza, assim como os demais animais.
Essa necessidade de ter um lugar ideal, escolhido pelo grupo social, fica evidente quando se vai procurar entender a forma de deslocamentos exercidas pelos Guarani. Porque eles não ficam nas reservas estipuladas pelo governo ou estão devidamente inseridos nas povoações das cidades ou nas povoações coloniais no interior, já que são agricultores? E quais os critérios que buscam para as demarcações de terras atualmente?
Há o que eles chamam “lugar para criar família”, que é uma terra cultivável, com mata e águas limpas. Por isso, quando conseguem um “lugar” vão logo transformando a paisagem em mbyá retã, plantando espécies que são importantes para eles e fazendo clareiras para roças com seus milhos coloridos.
É claro que os indígenas de hoje são modernos. Não podemos esperar que tenham se mantido intactos, iguais aos seus antepassados, mas a lógica da tekoá, do lugar pra roça, da beleza da mata para a saúde do Guarani, se mantém, mesmo que somente no imaginário social, e estes sempre tentam recuperar esse lugar ideal.
Claro que essa terra sonhada, nem sempre condiz com as áreas que ocupam, porque as terras que são designadas para índios atualmente são áreas íngremes, pedregosas, que não servem para o cultivo e necessitam recuperação ambiental, em muitos casos.
Há muitas situações em que encontramos vestígios arqueológicos nas proximidades das aldeias, mas estes não são os principais fatores da escolha atual do lugar, mas é claro que sua identificação nos faz pensar no que é e no que era a definição de ”lugar” ideal para as sociedades atuais e antigas.
E como lidar com essa noção de patrimônio indígena, já que a nossa muitas vezes diverge da deles, e aí temos um impasse, principalmente quando se trata de áreas de conservação ambiental.
Os Guarani associam a boa saúde da terra à sua própria saúde. A utilização de várias espécies vegetais como remédios e como ervas para os rituais religiosos é recorrente e necessita da mata, porque nem todas as espécies são cultiváveis perto da casa, por diferentes motivos: pode ser tabu ou porque realmente não se dão bem no ambiente do terreno aberto do pátio, ou junto das roças. Então o território de domínio envolve a mata e seu manejo é necessário e auto - sustentável, porque não há interesse dos índios na sua destruição, muito pelo contrario.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Senado Nacional... só explodindo!!!


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos 250 nomeações para cargos de confiança no Senado foram feitas por meio de atos secretos, revela levantamento da Folha na base de dados divulgada ontem pela comissão de servidores da Casa que investiga o caso.Foi a principal serventia dos boletins não publicados, que também serviram em menor escala para esconder decisões administrativas, aumento de benefícios, exonerações e mudanças de cargos.Em 30 de junho de 2006, por meio de um ato secreto, Marcelo Zoghbi, filho do diretor afastado de Recursos Humanos do Senado, João Carlos Zoghbi, foi remanejado para o gabinete do senador Demóstenes Torres (DEM-GO), onde ocupou o cargo de assessor técnico.Pai e filho foram indiciados pela Polícia Legislativa por usarem uma empresa em nome de laranjas para intermediar empréstimos consignados a servidores do Senado.Tão logo foi procurado pela Folha, Demóstenes se dirigiu ao plenário do Senado para se explicar. Disse que nomeou Marcelo a pedido do então senador Edison Lobão (PMDB-MA), de quem é amigo.Questionado se o favor não contradiz o seu discurso crítico, respondeu: "Seria, se ele fosse um funcionário-fantasma, mas ele trabalhava", disse.A mulher do ex-diretor de Recursos Humanos, Denise Zoghbi, e outros dois filhos, João Carlos Zoghbi Júnior e Luis Fernando Zoghbi, também ganharam cargos de confiança por meio dos atos.De 2005 a 2007, período em que o Senado foi presidido por Renan Calheiros (PMDB-AL), foram nomeadas 98 pessoas de forma sigilosa. Políticos aliados dele estão entres os nomeados no período, entre eles a presidente da Câmara de Murici (AL), Marlene Galdino dos Santos e Santos. Renan Calheiros Filho é o prefeito da cidade.Em 2008, entre as nomeações secretas está a de Rafael de Almeida Neves Júnior, filho do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR).Cinco anos antes, por meio dos atos, foram nomeadas quatro pessoas no gabinete do senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS). No mesmo dia, três funcionários de Zambiasi foram nomeados para a quarta-secretaria. Via assessoria, o senador informou que a responsabilidade pela não publicação dos atos é da administração do Senado.A nora do senador Efraim Morais (DEM-PB) foi exonerada por meio de ato secreto do cargo de assistente parlamentar da primeira-secretaria do Senado em 14 de janeiro passado. Até fevereiro, Efraim era o primeiro-secretário da Casa.Por determinação do Supremo, parlamentares tiveram que demitir parentes até o fim de outubro passado. Flávia Carolina Braz Rocha se casou com o deputado Efraim Filho (DEM-PB) no dia 5 de dezembro de 2008. Com isso, ela permaneceu no cargo no Senado irregularmente por 39 dias.Conforme o gabinete do senador, a exoneração deveria ter saído em dezembro, mas, por um erro, o documento não foi encaminhado para a publicação no boletim administrativo. O gabinete informou desconhecer que o ato seja secreto.Os atos também prestaram-se a reajustar pelo menos três vezes o valor do auxílio-alimentação pago aos servidores. Serviram para compor comissões que estudaram mudanças nas regras das licitações do Senado, a realização de sindicâncias e emendas ao Orçamento do governo federal.

MEUS LIVROS!!! Da bagunça... a estante... da estante...a tese....


Eis que para escrever é preciso organização. Nem sempre a organização dos outros coincide com a minha... então, é preciso organizar do meu jeito... mesmo que pareça desorganizado.

Os livros, os xerox, os documentos, as fichas... preciso de tudo num mesmo lugar... e hoje arranjei este lugar.

Apossei-me de uma estante. A menor... mas agora minha. Alí estão eles agora... todos ao alcance da minha mão.. todos enfileirados.... me observando e eu a observá-los.... os livros... a papelada... minhas traças....

Com meus marcadores amarelos... franjados com 'amarelinhos' saltando de suas páginas.. minhas anotações...é assim que consigo trabalhar... sempre direto no livro... mesmo que eu escreva fichamentos e faça anotações em cadernos... sempre recorro direto ao livro.... preciso deles por perto... junto de mim... no meu espaço... me dão segurança...adoro manuseá-los.. passar a mão por suas páginas... as vezes já surradas de tanto vai e vem... as vezes com manchas de café... das madrugadas em que me fizeram companhia...

Meus companheiros inseparáveis e amados...os livros...

Colorindo a estante, com suas multiplas capas...suas inscrições...

E assim vou colorindo minha imaginação... minha mente... e dando vazão ao discurso... ao meu discurso... as minhas interpretações... aos meus problemas.... vai surgindo um texto...dois.. outros livros... misturando coisas, idéias... fazendo cruzamentos...entre tantas idéias misturadas...

As palavras vão surgindo...vão compondo páginas... e vão se transformando em algo.. outro texto... outros livros... outras palavras impressas no papel...

Vai surgindo a tese...aos pouquinhos.... em pedaços... fatias de leituras... de madrugadas com café... de tardes ensolaradas em que o sol lá fora só é visto pela janela... de manhãs dormentes em que o calor da cama é trocado pelo assento da cadeira em frente ao computador...

Das festas que não fui... dos vinhos que não bebi... da música que não dancei...vai surgir um texto... palavras impressas....análises feitas... imagens construídas... dando forma a outro livro....com páginas brancas e pretas...

E me sinto feliz ao ver essa construção se erguendo no papel...

Um dia a tese vai fazer companhia aos outros livros daquela estante preta...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Artigo da Veja, de 14 de Maio de 1986.



EMPREGUISMO:

Debaixo do Pano

Trem da Alegria pega filha de Sarney

Até semana passada sabia-se que a filha do Presidente José Sarney, Roseana Sarney Murad, era uma assessora do Senado Federal, contratada temporariamente, com prazo delimitado para deixar a função. Na última sexta-feira, porém, descobriu-se que Roseana, na verdade, pertence ao quadro dos funcionários permanentes da Casa, mesmo sem ter prestado nenhum concurso público, como exige a lei. Seu nome figura em um almanaque de funcionários do Senado, publicado apenas recentemente, ao lado de outros 59 'assessores técnicos', efetivados como empregados da Casa, desde janeiro do ano passado, com salários em média, de 25 000 cruzados. Na cidade de Praia, no Cabo Verde, onde acompanhava o presidente Sarney (veja reportagem à pag. 28), o marido de Roseana e secretário particular da Presidência, Jorge Murad, reagiu com espanto à denúncia, publicada pelo jornal Folha de São Paulo. "Nem mesmo a Roseana sabe disso", afirmou Murad.


O "trem da alegria" no qual a filha de Sarney foi embarcada, passou pelo Senado no dia 14 de janeiro de 1985. Às vésperas da reunião do Colégio Eleitoral, que escolheu Tancredo Neves para a Presidência da República, o então presidente do Senado, Moacyr Dalla, do PDS do Espírito Santo, resolveu agradar vários dos seus colegas e criou, sem concurso, 60 novas vagas, preenchidas muito mais por critérios genealógicos do que curriculares. Além de Rosena, que servia como assessora de Sarney desde 1980, foram efetivados Antônio Candido Lima Furlan, filho do senador Amaral Furlan, do PDS paulista; Magna Lúcia Gadelha, mulher do senador Marcondes Gadelha, do PFL da Paraíba; Murilo Canellas, irmão do senador Benedito Canellas, do PFL de Mato Grosso; Maria do Céu Jurema Garrido, filha do senador Aderbal Jurema, do PFL de Pernambuco; Neila Yara Michiles, filha da senadora Eunice Michiles, do PFL amazonense; e João Agripino Vasconcelos Maia, primo de José Agripino Maia, governador do Rio Grande do Norte; entre outros.


O mais interessante da história é que o ato de nomeação desses funcionários, ao contrário do que determina a legislação, não foi divulgado na época em nenhuma publicação oficial do Senado. O fato só veio a público este ano, com a publicação do almanaque de funcionários da Casa. "Tudo foi feito dentro da legalidade", afirma o senador Raimundo Parente, do PDS do Amazonas, cujo filho, Celso Parente, também entrou no Senado num trem da alegria, manobrado por Jarbas Passarinho, quando presidia a Casa.


"Essas nomeações são uma tradição do Senado", complementa Milton Cabral, senador pelo PFL paraibano. A tradição é simples: o senador chega à Casa com oito anos de mandato e filhos, noras ou genros, com uma vida pela frente. Emprega alguns deles como assessores e explica que se não pode confiar nos parentes não poderá confiar em mais ninguém. O tempo passa, e com a proximidade do fim do mandato, o Senado efetiva os interinos, tornando vitalícia as nomeações. Assim, se o senador em oito anos não consegue marcar os anais, seus parentes ficam na Casa marcando a folha de pagamento. Tramita atualmente entre os parlamentares, com aval da Comissão de Constituição e Justiça, uma resolução que, se aprovada, efetivará pelo menos mais 200 secretários particulares sem concurso. Envolvido nesse novo trem da alegria que se monta no Senado, o seu presidente, José Fragelli, acabou arrumando uma desculpa de última hora quando perguntado sobre o 'trem' do ano passado. "Eu não poderia brigar com a filha do Presidente da República", explica Fragelli. No dia em que Roseana foi nomeada, porém, seu pai era apenas o candidato a vice.

Só pra registrar que a 'putaria' é antiga no Congresso Nacional...


Sobre a reportagem acima transcrita....
Incrível a cara de pau de Sua Excelência...
Desde de áureos tempos já empregava os parentes na 'maciota'... por baixo dos panos... se fazendo de desentendido..
Que falta de vergonha... e o pior...é que continua na política...continua angariando votos do povo brasileiro!!!????

A pergunta é: até quando?
Povo... até quando teremos essa corja no poder do nosso país... fazendo o que bem entende...enchendo os bolsos de dinheiro - diga-se de passagem do nosso dinheiro.. aquele mesmo que falta nas escolas públicas, nos hospitais e postos de sáude....

Até quando vamos choramingar a miséria neste país, cheio de desenpregados, enquanto os afortunados parentes dessa canalharia toda usufrui de cargos parlamentares...bem remunerados... com regalias e privilégios....

Até quando vamos ter gente sem teto... homens e mulheres lutando pela terra que lhes é de direito, para plantar seu sustento...crianças e velhos abandonados e sem atendimento, enquanto essa gente toda esbanja nosso dinheiro e nos trata como bobos?

Até quando...?


segunda-feira, 22 de junho de 2009

Caminhos e encantos no ensino de história


Estava eu a ler um texto da Maria Stephanou, sobre os currículos de história, onde a autora ressalta as dificuldades de se mudar a forma como se ensina a história nas escolas de base.

As interpretações feitas e os recortes sobre os diferentes momentos da história humana são sempre abordagens simplistas nos livros didáticos, e assim a história chega aos estudantes - crianças e adolescentes - como uma caixa de cusriosidades ou uma miscelânea de nomes e datas para serem constantemente decorados e não compreendidos.

Mudanças ocorreram na maneira de organizar os tais livros didáticos, a hoje em dia até temos bons livros no mercado... mas a forma simplista de se apresentar a história aos estudantes permanece... mesmo com uma cara mais modernizada.

Temos hoje uma avalanche de informações chegando aos estudantes, pois com a internet o acesso a textos, imagens, noticias, e tudo o mais acaba por ser quase generalizado... o problema é que o senso interpretativo desses jovens anda muito baixo... eles lêem, mas não entendem o que lêem... não conseguem tecer um senso crítico a respeito de tantas informações.. e nem sequer entendem o que elas trazem por traz das simples palavras e imagens reproduzidas.

Essa enxurrada de imagens fortes, violentas, sanguinolentas até... faz com que muitas coisas sejam banalizadas...então, uma guerra, o genocídio de um povo, a violência nas cidades, acabam se tornando apenas imagens...como num vídeo game... não se encaixam no real.... apenas num virtual...

E aí, na escola, vemos que as aulas de história - salvo muitas e honrosas excessões - seguem naquele ritmo segmentado... onde a cronologia linear é mantida como a única via para se ensinar e aprender história.... algo distante, e desconectada do mundo em que vivem os estudantes...

A história fica no passado... e lá se congela....

Ao contrário, ela está no presente... interpretamos o mundo através do presente... deveriamos pensar a história do passado com nossos olhos do presente... conectando-nos ao mundo e ao vivido como formas para nos inserirmos nesse mundo vivido... aprendendo a interpretar esse mundo e as ações vividas... conhecendo os discursos, os saberes, construções... tudo que faz a história ser uma disciplina que estuda o passado para compreensão do presente.

Como diria Stephanou: "... seria proveitoso se o estudo da história viesse possibilitar a introdução de outras formas de raciocínio, em especial, uma outra concepção de tempo e a idéia de movimento."

Esse talvez seja o caminho... pensar que história é sinônimo de movimento... ela nunca está parada... mas sim em constante movimento, que varia em cada fase do mundo vivido... do presente de cada geração... das necessidades de cada lugar e cada povo...para com a história construir uma memória... uma identidade... uma maneira de explicar os atos humanos e suas rupturas.

domingo, 21 de junho de 2009

Campanha Troque 01 parlamentar por 344 professores


Prezado amigo! Sou professor de Física, de ensino médio de uma escola pública em uma cidade do interior da Bahia e gostaria de expor a você o meu salário bruto mensal: R$650,00
Eu fico com vergonha até de dizer, mas meu salário é R$650,00. Isso mesmo! E olha que eu ganho mais que outros colegas de profissão que não possuem um curso superior como eu e recebem minguados R$440,00. Será que alguém acha que, com um salário assim, a rede de ensino poderá contar com professores competentes e dispostos a ensinar?
Não querendo generalizar, pois ainda existem bons professores lecionando, atualmente a regra é essa: O professor faz de conta que dá aula, o aluno faz de conta que aprende, o Governo faz de conta que paga e a escola aprova o aluno mal preparado. Incrível, mas é a pura verdade! Sinceramente, eu leciono porque sou um idealista e atualmente vejo a profissão como um trabalho social. Mas nessa semana, o soco que tomei na boca do estomago do meu idealismo foi duro! Descobri que um parlamentar brasileiro custa para o país R$10,2 milhões por ano. São os parlamentares mais caros do mundo. O minuto trabalhado aqui custa ao contribuinte R$11.545.
Na Itália, são gastos com parlamentares R$3,9 milhões, na França, pouco mais de R$2,8 milhões, na Espanha, cada parlamentar custa por ano R$850 mil e na vizinha, Argentina, R$1,3 milhões.
Trocando em miúdos, um parlamentar custa ao país, por baixo, 688 professores com curso superior !Diante dos fatos, gostaria muito, amigo, que você divulgasse minha campanha, na qual o lema será: "TROQUE UM PARLAMENTAR POR 344 PROFESSORES". COMO VOCE VAI VOTAR DEPOIS DE LER ESTA MATÉRIA??REPASSEM, EU JÁ ADERI À CAMPANHA!

Obrigado !!

sábado, 20 de junho de 2009

Francamente Excelência!!!!


Por Lúcia Hipólito.


Bom, só posso dizer que o texto da Lúcia Hipólito não necessita de um comentário. É a mais pura realidade desse país.Apanhado com a boca na botija recebendo mais de R$ 3.000,00 de auxílio-moradia, sendo proprietário de uma confortável residência em Brasília e dispondo ainda da residência oficial da Presidência do Senado, José Sarney pediu desculpas e alegou que não pediu auxílio-moradia e que "alguém" vem depositando em sua conta o auxílio-moradia desde meados de 2008.
(Na última terça-feira Sarney afirmara categoricamente que não recebia auxílio-moradia. Pelo visto, a memória voltou subitamente. )
O que dizer de um cidadão brasileiro que, checando sua conta bancária, encontra depósitos mensais de mais de R$ 3.000,00 e não tem a curiosidade de conhecer a identidade desse benfeitor anônimo que todo mês pinga um "capilé" em sua conta?
Sarney é um fofo!E dizer que uma pessoa assim foi presidente da República por cinco longos anos!
José Sarney não é um iniciante na política. Bem ao contrário. Deputado federal em 1958 (há 51 anos!), governador em 1965 (com uma ajudinha do recém-criado SNI), senador, presidente da República, três vezes presidente do Senado. Sarney já foi tudo neste país.Criou uma dinastia. Tem a filha e o filho na política.
Será que Sarney não sabe o que é certo e o que é errado? O que pode ser legalmente aceitável mas é eticamente inaceitável? Ou sabe e não se importa?
Um senador da República, presidente do Senado Federal e do Congresso Nacional, que tem residência em Brasília e tem ainda ao seu dispor a residência oficial do Senado, não lê seu contracheque ou não sabe que auxílio-moradia não se aplica?!
Desde a terceira eleição de Sarney para presidente do Senado, em 2009, os cidadãos brasileiros já tomaram conhecimento de que ele requisitou seguranças do Senado para fazer a segurança de sua residência em São Luís (MA), embora ele seja senador pelo Amapá.
Os cidadãos brasileiros também tomaram conhecimento de que, das 181 diretorias descobertas no Senado, pelo menos 50 foram criadas por José Sarney.
Os cidadãos brasileiros tomaram conhecimento, ainda, de que uma assessora para as campanhas de Sarney e da famiglia Sarney era também, nas horas vagas, diretora do Senado.Flagrado, Sarney afastou a diretora... E a nomeou como assessora especial.
O que será que o senador Sarney pensa de nós, eleitores? Que somos um bando de bobos. Que aceitamos qualquer coisa. Francamente, Excelência. Isto é inadmissível.
O melhor a fazer é renunciar à presidência do Senado. Além de devolver o dinheiro público, naturalmente.

Reflexões sobre pessoas e coisas...


Essas minhas inquietações a respeito do mundo muitas vezes me tiram o sono... ou me fazem refletir demais acerca do que me cerca.... e me tiram o sono....

Vejo na arqueologia, que nossas maiores preocupações, enquanto cientistas sociais, é em 'preservar o patrimônio' material. Enlouquecemos quando vemos uma tigela de barro sendo quebrada, ou quando vemos que estão construindo uma casa sobre um antigo cemitério indígena, ou que as pessoas de um lugar jogam bola sobre um terreno repleto de vasilhas de cerâmicas...

Tratamos de 'conscientizá-los' sobre a importância do patrimônio arqueológico... fazemos palestras... mostramos fotos, incentivamos à que todos guardem seus patrimônios para o futuro, que não os destruam, que não os deixem desaparecer... enfim, cumprimos nosso papel para conservar o passado, o mais intacto possivel para estudos científicos...

Mas, quem são essas pessoas que estão sobre o 'patrimônio'? Do que vivem, o que pensam realmente a respeito dessas 'coisas de índios'? O que aquilo representa para elas e como pensam sua 'preservação'?

Nós não somos os detentores de todo o saber, apenas porque a academia nos deu esse poder? Então... podemos ir lá e explicar para as pessoas o que fazer com as coisas que elas conhecem desde que nasceram.... Achamos que somos esses seres que tudo sabem...mas será que tudo sabemos mesmo?

Há de se questionar... nada sabemos.... nossa ciência é tão falha quanto qualquer saber... apenas nos autorizamos a dizer coisas sobre tudo e pensar que tudo sabemos... porque somos detentores do saber científico..

Mas, nada sabemos...

As pessoas, humildes, conhecedoras de seus espaços e de suas paisagens... das suas coisas... das suas histórias... tudo sabem... pois moram alí.. construiram a história daquele lugar.... as recriam dia a dia... e interagem com as coisas, refazendo a história, com novas casas, novos cemitérios... novos utensilios...e até jogando bola...

Precisamos nos abrir aosnovos olhares sobre as coisas... e nos preocuparmos menos em preservar o passado, mas sim em interagir com o presente e com o futuro... e lá que se encontra o verdadeiro conhecimento...

O passado... morto está....

sexta-feira, 12 de junho de 2009

As areias culturais também vem do fundo!!


No fundo do mar a areia, remexida com o movimento das águas, vem a tona e torna mais belo o movimento das ondas...

Traz um colorido especial e uma forma nova àquela vaga que se arrebenta na praia e que volta para o oceano levando com ela outras areias, conchinhas, coisas que estavam depositadas nas margens...

A cultura humana é uma vaga... uma onda que vai e vem dentro do mar da consciência e dos coletivos sociais... sempre novo, sempre em movimento... sempre trazendo coisas e levando outras pro fundo... trazendo areias coloridas e envolvendo as margens das praias das humanidades...

O mar não existiria sem ondas... o homem não existiria sem cultura...

Somos o mar das culturas... diferentes sempre... umas mais densas, outras mais tranquilas...umas discretas, outras eloquentes...

as culturas variam... e fazem o movimento dentro das sociedades...

Tentar entender as culturas humanas como algo em movimento, mas sempre diverso é o desafio atual da ciência antropológica...

As ideias que Latour lança quando diz que nossa suposta modernidade nunca existiu de fato... e que somos mesmo conservadores de nossos valores tradicionais....

Nossa suposta ciência nada mais é do que uma forma de explicar nosso mundo... uma das vagas que avança na praia da nossa cultura... misturando coisas...que insistimos em separar...em fragmentar.

Esse foi o problema da modernidade; tentamos separar as coisas que as ondas da cultura trazem.. e coloca-las nas nossas caixinhas...

Hoje, percebemos que as caixinhas se quebram e as coisas voltam a se misturar, como a areia da praia com as ondas no mar... tudo junto... tudo formando uma coisa só...

A cultura.

Como é bela a vida no campo....


Estamos aqui a falar de arqueologia.... sim, caro leitor: arqueologia. De qual campo estava esperando ouvir?

Dos belos campos cheios de flores e odores primaveris?

Não, não...

Falaremos do trabalho no campo... do trabalho de campo... dos dias ensolarados e também dos frios e umidos invernos no campo... mas principalmente dos efeitos devastadores do convívio mútuo entre indíviduos... das pesquisas, das descobertas, das surpresas...

Quando se vai ao campo, já de antemão se sabe que o trabalho do arqueólogo não é fácil, nem simples, nem leve... mas sim, muito difícil, complicado... exige atenção e um exercício duplo de mente e corpo, pois não se faz um pesquisa arqueológica sem o corpo... envolvido nela como um todo, mental e fisicamente, pois nosso documento está escondido debaixo da terra, no meio de lama, raízes, pedras...

Desse emaranhado de coisas, tem-se de extrair saberes, conhecimentos sobre o passado de gente que viveu e interagiu naquele ambiente, naquele lugar, e deixou marcas, no espaço, na paisagem... marcas humanas, lixo, destroços, coisas velhas, jogadas fora ou abandonadas por algum motivo, que durante a pesquisa tentamos desvendar.

O trabalho no campo envolve muito mais do que catar caquinhos, recolher pedrinhas.... envolve pensar sobre tudo e sobre todos que ali passaram , inclusive os arqueólogos...

Sim, pois no momento em que colocamos nosso corpo junto aos objetos e as paisagens no presente momento, passamos a fazer parte do 'documento', passamos a nos integrar aos 'vestígios do passado', e trazê-los para o presente, para os nossos dias, desenterrando gentes, coisas e memórias...

Além desse exercício, já arduo de pensar a arqueologia, pensar no que esses pedaços de passado humano tem a dizer sobre os homens, mulheres, crianças que viveram alí, que marcaram a terra com seus passos, com suas ações, temos o convívio entre os membros da equipe... sim, pois é uma pesquisa coletiva... arqueologia não se faz sozinho, nunca... impossível trancar-se em um gabinete e lá em meio a papéis velhos e uma lupa, ficar absorto no passado... arqueologia se faz no presente.... e se faz com gente, do passado e do presente... uma equipe de profissionais de áreas diferentes inclusive... o arqueólogo, seus alunos, outros arqueólogos, topógrafos, geógrafos, biólogos, enfim... pessoas que contribuem para o entendimento desses documentos sem escrita, mas com tanto conteúdo, que são os objetos, o lixo, as coisas deixadas para trás, em um cotidiano antigo...

Esse convívio pode ser pacífico e tranquilo, como pode ser tumultuado e agitado... depende do grupo... depende das pessoas...

E aí, mais uma vez o corpo é parte da pesquisa, parte da construção do conhecimento científico... pois as amizades, as inimizades, as simpatias e as antipatias entre os membros da equipe vão dando as dimensões do trabalho de campo... do recolhimento dos elementos que vão compor o discurso sobre o passado... pois falamos sobre pessoas, mas também somos pessoas, e como as do passado, temos sentimentos, angustias, incertezas... compartilhamos ideias, trocamos opiniões e ao fim temos de chegar a conclusões.... ou pelo menos algumas considerações para finalizar a pesquisa e a construção desse passado que nos propomos analisar.

Mas, além das pesquisas propriamente ditas... o convívio vai além do trabalho... como a equipe tem de viver debaixo do mesmo teto durante os dias de campo... que as vezes duram muitos dias.... o convívio passa a ser uma vivência constante, onde as pessoas trocam não só idéias cientificas, mas pessoais...

É comum saber os gostos dos companheiros de campo, saber o que bebem, o que leêm, qual o tipo de cueca e de calcinha preferido pelo companheiro de trabalho.....

Isso dá uma dimensão enorme ao modo como as pesquisas serão desenvolvidas... pois cada 'gosto', cada momento de descontração, onde a equipe se reune pra beber vinho e contar piadas... vai criando um ambiente mais amalgamado.... e as idéias vão se compactuando... se tornando mais conectadas... vai se criando uma rede, onde o conhecimento de áreas diferentes e afins conseguem deixar suas caixinhas individuais e serem finalmente pensadas como um todo...

É assim a arqueologia... e assim, no campo... os campos da idéias se entrelaçam....

quarta-feira, 10 de junho de 2009

E por falar em educação....


Olha só... que engraçado - ou trágico - hoje pela manhã, postei o texto da Marisa aqui no blog, onde ela nos alerta pra todos os problemas gerados pela administração do governo atual no RS, que vem destruindo as estruturas escolares, já precárias, em nosso Estado, com ações irresponsáveis, como a desarticulação dos professores dentro das escolas, a falta de incentivos para o bom desenvolvimento da docência, imposições de currículos e maneiras pra se ensinar e trabalhar dentro das escolas... enfim... um arsenal de formas para desestabilizar os professores e fazer com que estes não consigam trabalhar, formando cidadãos críticos e bem articulados dentro da sociedade...

Nesse bojo, podemos pensar também que em todas as políticas públicas atualmente aplicadas ao ensino e a aprendizagem, vemos um arcabouço de alunos que, ou são jogados dentro de salas de aula em escolas que se transformaram em depositários de jovens sem perspectivas maiores, ou são colocados em escolas que viraram modelos de ações político partidárias, como vitrines para mostrar que está tudo correndo bem. Esses alunos então passam a ser uma 'elite', onde conseguir uma vaga na escola 'boa', passa a ser uma disputa de classes... esses são os alunos do 'centro'... o estudante classe média. O aluno da escola de periferia, aquele que vai pra esses 'depositários', onde faltam recursos, faltam professores, falta incentivo.... são os 'pobres', os negligenciados, aqueles que não conseguem a tão almejada vaga na escola modelo.

E aqui, falamos de escolas públicas, aquelas que vão abrigar os filhos de trabalhadores e os próprios trabalhadores... sejam eles funcionários públicos e profissionais liberais - os que geralmente almejam a escola 'modelo' - sejam os filhos de operários, desempregados ou subempregados, o tal proletariado.... que vão ocupar as vagas nas escolas da periferia, na sua maioria.

Bem.... diante desse quadro, não falamos nas escolas particulares, que vem crescendo em número e em vagas para acolher aqueles jovens alunos que tem pais preocupados com a 'qualidade' do ensino público, e que tem dinheiro para pagar, ou que acolhem mesmo os filhos da elite, da classe média mais estabilizada, que prefere pagar pra que os filhos tenham um ensino de boa qualidade...

Aí, também vemos muitos professores, que antes estavam atuando nas escolas públicas, mas que diante dos péssimos sálarios, dos cortes de incentivos, das más condições de trabalho e do descaso do governo diante de sua classe profissional, foi-se a dar aulas em escolas privadas, com pagamentos mais elevados, com algumas regalias, mas também com muita censura para com sua atividade docente. As vezes, esse professor antes combativo, engajado, crítico, passa a ser mais 'dócil', mais condescendente, menos ativo e menos crítico, para poder manter seu emprego e pagar as suas contas... já que o sálario de um professor na escola pública hoje, não é nada digno diante das responsabilidades e da importância que esse profissional tem para com a sociedade...

Enfim, vemos nossos professores se venderem e venderem sua mão de obra em escolas privadas, onde muitas vezes - nem todas são assim, mas... - se submetem a desaforos de pais e alunos que os tratam como a mais um 'empregado', e que deve cumprir com suas tarefas e agradar os patrões.... E diante de alunos mal educados, mimados, que não vêem o ensino e a escola como um lugar de trocas de conhecimento, mas apenas um lugar onde vão buscar um certificado de conclusão de curso... onde não querem ser questionados, nem aceitam a autoridade do professor como alguém que os quer bem, mas que precisa ajuda-los a se educarem pra sociedade... esses professores acabam se submetendo a situações bastante incômodas e desestimulantes para prosseguirem em suas práticas docentes...

Mas, muitos seguem... muitos não desistem... nem se deixam desestimular. Buscando no fundo de sua alma, de suas convicções, estimulos para prosseguirem nas suas práticas, como uma missão... uma missão de educar para formar uma sociedade melhor, mais justa, mais honesta, mais igualitaria...

É por isso que vale a pena ensinar e aprender... por mais agruras que se tenha, com salarios baixos, com falta de tudo nas escolas, com pais negligentes, alunos rebeldes, alunos ricos, e pobres, políticas absurdas, governos corruptos e todas as mazelas que conhecemos.... ensinar e aprender ainda é a melhor forma de mudar tudo isso...

O mundo precisa de educadores... o mundo precisa de educação....

Sob o domínio do Mal


*Marisa Antunes Laureano

Filmes ruins não deveriam ter continuidade, mas parece que até o fim do governo Yeda teremos muitas continuações e tristes representações da nossa realidade. O governo não desiste de encaminhar seus projetos de interesse próprio, e do Banco Mundial, contra o trabalhador gaúcho.
A Secretária de Educação Mariza Abreu afirmou em entrevista coletiva que agora a autonomia das Escolas “está em como ensinar e não o que ensinar”. A SEC contratou “especialista” para determinar aos professores o que eles devem ensinar. Não podemos mais nos reunir com nossos pares nas escolas para organizar o currículo, pois este já virá pronto. Atos como esse caracterizam, mais uma vez, o perfil ditatorial deste governo. Até quando teremos de suportar tantos desmandos e autoritarismo? O pior é que gastam milhões com empresas privadas para realizar um trabalho que os professores gaúchos sempre fizeram com qualidade, ao contrário do que apregoa a Secretária de Educação.
Os estudantes de escolas públicas do Rio Grande do Sul estão na frente em índices sérios de avaliações. Não saem melhor, pelos velhos problemas de uma escola pública que não oferece os recursos necessários ao bom aprendizado do educando. Salienta-se que somente os professores que enfrentam diariamente os problemas das escolas públicas podem opinar. Não é uma empresa privada, de Minas Gerais ou São Paulo, que pode vir aqui nos dizer o que está errado. Nós sabemos o que acontece, a culpa que a Secretária de Educação Mariza Abreu diz ser dos professores sempre foi do sistema, que é incapaz de valorizar educando e educador. O dinheiro público agora vai parar nos bolsos de Fundações e Instituições que se dizem preocupadas com a Educação, mas visam unicamente o lucro. Realizam provas externas cobrando milhões, dão consultoria por outros tantos milhões, gravam DVDs e lucram, lucram muito. Tanto dinheiro que poderia servir para melhorar a vida de todos os professores e não só dos que supostamente serão melhores pelo critério obscuro de avaliação da secretaria de Educação.
Devemos perceber que as regiões do mundo, onde estas medidas já foram tomadas, viram vários setores, que eram de responsabilidades da escola, ser transferidos para Instituições privadas que recebem pagamentos altíssimos para realizar trabalhos que as escolas sempre fizeram. Em nada isso melhorou a situação dos alunos, pelo contrário. A desvalorização do professor, que passou a ser um mero reprodutor de conceitos que não são organizados por seu coletivo, transformou-os em profissionais sem perspectivas. O papel do educador, que outrora fora considerado uma vocação, não mais existe. Nas referidas regiões, essa realidade fez piorar a relação ensino-aprendizagem, desestimulou os profissionais, não garantiu o aprendizado dos alunos, pois o que vinha pronto não interessava a eles e, consequentemente, freava a sua vontade de aprender.
Currículos feitos em gabinetes nada têm a ver com a realidade das escolas e ferem o principio básico da educação que é a participação do educando na construção do seu próprio conhecimento. Estas experiências transformaram a Educação Pública em uma fonte de lucro para empresas privadas, além da referida desvalorização dos professores, acabaram com o interesse dos jovens em cursar licenciaturas, elitizaram as escolas centrais (que recebem mais recursos e atenção), sucatearam as escolas de periferia (que viraram depósitos de alunos), causaram uma debandada de profissionais da educação para outras atividades (o sonho de ser professor acabou) e aumentaram a violência nas escolas (principalmente contra o professor). Todos estes dados podem ser comprovados pelos estudos feitos em países como o Chile, México, Portugal, EUA, entre outros. E agora no Brasil começando pelos Estados de Minas Gerais e São Paulo.
Como em todas as ditaduras estamos impotentes no momento, mas como já dizia o poeta Chico Buarque “Amanhã vai ser outro dia...” Terá de ser ou...

*Professora de História, Mestre em História e
Especialista em Ensino de História da África

(Dis)sabores sanguinolentos ou vampirismo acadêmico


Vivemos num mundo cheio de 'poderes'. Dos mais pequenos aos macro 'poderes'. Todos querem mostrar o 'seu' poder sobre os outros e sobre as coisas, e pra isso muitos não medem esforços.

Percebo que a elite intelectual, que povoa as academias universitárias AMA os 'poderes', do micro ao macro, e faz deles seu motor de ingrenagem. Se pode ver coisas bizarras sendo feitas e apresentadas aos seus pares como prova de seus 'poderes', e dessa forma, de acordo com esse poder, os aplausos são esperados por aqueles que o detem.

É quase impossivel não se submeter a tais atos de soberania quando se está nesse mundo acadêmico... as vezes é preciso sorrir diante daquele que vai lhe dar um dentada vampiresca e lhe sugar o sangue pra mostrar que tem poder sobre você.... pra mostrar que 'quando você crescer' poderá ser como ele... e explorar alguém, até o esgotamento com a intenção de lhe ensinar as coisas da vida....

Nesse ritmo, frenético e cheio de vaidades, se vê a reprodução dessas maneiras de agir pelos pupilos de tais 'poderosos', e quanto mais vampiresco, mais sanguinolento for o cara, mais adeptos ele terá, mais seguidores, mais fama, mais prestígio....

As vezes as dificuldades para que aqueles que acreditam que é possivel valorizar os atos e os trabalhos de quem não se enquadra no castelo dos vampirescos mestres são tão grandes, que bons textos, boas pesquisas, boas propostas são deixadas de lado e colocadas nas gavetas universitarias, e lá deixadas para uma outra vida, porque nessa a impossibilidade de valorização se torna inviável... ou você deixa sugarem seu sangue... ou não publica, não consegue mostrar sua produção e seu valor...

Mas, que valor é esse então, que depende dos humores vampirescos de uns poucos poderosos, que sentaram no trono do castelo e não morrem, pois estão sempre a reproduzir suas sanguinolentas hordas?

Quando teremos a possibilidade de simplesmente trabalhar e poder fazer pesquisa para a sociedade e não para agradar os Princípes das Trevas?

Quando teremos a chance de saber que numa disputa justa, por uma vaga de emprego, onde apenas queremos trabalhar e produzir de acordo com nossos valores e com o que aprendemos nos anos de universidade e pesquisa, seremos escolhidos de forma honesta e pelo nosso esforço e reconhecimento de trabalho, e não porque invariavelmente nos aproximamos do Rei, e lhe beijamos a mão e deixamos que sugue nosso sangue?

Porque os vampirescos Príncipes se mantém no poder? Será que é porque emitem medo nas estruturas vigentes, ou será por que as estruturas vigentes do Castelo só foram criadas pra manter os Príncipes protegidos?

Eis a questão...

Mas, se a elite intelectual de um país existe para que essa sociedade tenha acesso a novas idéias, tecnologias e pesquisas para melhorar sua vida... será que o fato dessa elite só se voltar para a sua propria reprodução não está indo exatamente na contramão da sua função social?

Bem, essa é a grande questão.... quanto mais alto o cargo e o posto adquirido pelo 'PODEROSO' Príncipe, mas distante ele fica da sociedade que o elegeu... que lhe deu poder, que lhe proporcionou adquirir o status quo que agora ostenta....

E mais sangue ele vai precisar pra se manter vivo... pra manter o 'poder'... para reproduzir seus pares perfeitos e continuar afastando os mortais do Castelo.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Paciência... uma palavrinha que vem da paz!


Ando realmente sem paciência pra algumas coisas e algumas pessoas nos últimos tempos.

Não sei se é porque por muito tempo tenho exercitado a tal palavrinha e buscado a paz entre os seres que me cercam... mas aí vem um problema: eu me sinto invadida e sou atingida pela impaciência alheia. Na maioria das vezes atingida exatamente por aquelas pessoas com as quais tenho paciência....

Sabe, uma vez ouvi de uma conhecida uma frase, que na época achei deveras dura, e até mesmo porque a tal conhecida não prima pela doçura e cordial maneira de tratar seus iguais.... mas ela disse: pra filho da puta se pede licença.

Sabe que ando começando a acreditar que ela tinha razão. As pessoas que agem como doidas, que dizem coisas duras e agressivas, que literalmente atropelam você, são aquelas pra quem a gente sempre tem paciência... arranja desculpas pra continuar convivendo com elas, mesmo que se sinta incomodado... arranja desculpas pra explicar aos outros amigos por que aguenta tamanha falta de respeito... enfim... arranja desculpas pra continuar ao lado de quem te esgota a paciência.

E me pergunto; porque fazemos isso? Porque temos de ser bonzinhos e amiguinhos, quando os 'malucos' nos agridem com sua impaciência e hostilidade... quando, essas pessoas são invasivas e inoportunas...?

O que queremos provar? Que somos melhores, bons, pacientes e 'normais'. Por isso aturamos 'loucos' a nossa volta?

Ando me questionando muito a esse respeito, e chego a conclusões que não quero mais aturar niinguém.... nem nada que me agrida, ou que me magoe...

Sou uma pessoa, como qualquer outra e não tenho que provar que sou melhor nem pior...

Não pretendo me transformar no 'filho da puta' pra que me peçam licença... mas pretendo olhar o mundo como um lugar de maiores possibilidades de convivio mútuo... nada mais de ser condescendente com insanidades alheias só pra mostrar que sou uma pessoa da paz.... quero realmente viver em paz... com os outros e comigo mesma... mas sem agressões, sem violações da minha privacidade....

Agora, que os outros também tenham paciência comigo!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Confesiones de un soldado israelí: "Tratamos a los palestinos como animales"


Comienzan a surgir en la sociedad israelí las primeras voces contra la guerra. El domingo, una marcha en Tel Aviv para pedir el final de los bombardeos en Gaza y el Líbano. Hoy, una noticia que conmocionó a la opinión pública: el sargento Itzik Shabbat anunció que se negaba a participar en la ofensiva contra Beirut, "Lo hago para oponerme a esta locura y para romper con la ilusión de que todos estamos a favor de esta guerra innecesaria basada en mentiras", afirmó este joven reservista de 28 años que vive en Sderot, ciudad próxima a Gaza en la que suelen caer los misiles Qassam de Hamás.
Se acerca la hora del regreso a Gaza. Apuro las últimas entrevistas en Jerusalén. En un café de Jaffa Road, me encuentro con Yehuda Shaul, fundador de la ONG
Breaking the Silence (Rompiendo el silencio).
"Todo es una locura: la ocupación, la forma inhumana en que tratamos a los palestinos", me dice. "En Israel entras al
ejército con 18 años porque quieres luchar contra el enemigo de tu país, porque quieres dejar tu marca en la historia, y haces lo que te dicen, sin pensar. Y allí todo te ayuda para que no pienses. Misiones que cumplir, órdenes que seguir".
"Y no ves a los palestinos como seres humanos, los ves como animales. Entras a su casa durante la noche, los despiertas, les gritas, las mujeres allí, los hombres allí, y rompes todo. Son cosas que no harías aquí en Israel, pero las haces allí. Y, para poder hacerlo, niegas la realidad. Es la única forma. Creas entre tú y la realidad un muro de silencio".
"Te pongo otro ejemplo: si encuentras en la noche un paquete sospechoso que puede ser una bomba, llamas al primer mohamed que encuentras en la calle y le dices que lo abra. Podrías llamar a un experto que lo desactivase, tardaría diez minutos en venir, pero mejor hacer que un palestino se juegue la vida, ya que para ti es lo mismo, no lo ves como un ser humano. Yo hacía eso con mis soldados en
Hebrón".
"Y también en Nablus, cuando quería entrar a una casa, si pensaba que podía haber una bomba trampa, cogía al mohamed de turno y lo obligaba a que abriera la puerta. Es parte de la rutina del ejército: usar a los palestinos como escudos humanos".
"Lo mismo cuando estás en un check point, los obligas esperar mucho más de los necesario, a veces durante horas, y coges a un palestino al azar y le das una paliza, de cada quince o veinte que pasan, para que el resto tenga miedo y esté tranquilo. Sólo así, tú que estás con cuatro soldados más los dominas a ellos que son miles".
"Y cuando entras a Gaza con el carro de combate y ves un coche nuevo, aunque tengas espacio en la carretera, pasas por encima. Y también disparas a los tanques de agua. Para meterles miedo, para que te respeten, porque esa es la lógica de lo que nos enseñan a los soldados israelíes".
"Además, eres joven y empiezas a disfrutar de ese poder, de que la gente haga todo lo que les digas. Es como un video juego. Estás en un check point en medio de la ruta, tienes a veinte coches esperando, y con sólo mover el dedo hacen lo que tú quieras. Juegas con ellos. Los haces avanzar, retroceder. Los vuelves locos. Tienes 18 años y te sientes poderoso".

"Tres meses antes de abandonar el ejército, dirigía una unidad en Hebrón, había hecho una buena carrera, así que tenía tiempo libre. Una mañana me miré ante el espejo y comprendí que todo aquello era un error y supe que no podría seguir adelante con mi vida si no hacía algo. Por eso, apenas salí, junto a los soldados de mi unidad, montamos una exposición con nuestras fotos, se llamaba Traer Hebrón a Tel Aviv".
"Cayó como una bomba en la sociedad. Vinieron parlamentarios, periodistas. Pasaron siete mil personas. Entonces creamos Breaking the silence, donde damos espacio para que los soldados cuenten los abusos que cometen sistemáticamente. Más de 350 lo han hecho. Ahora tenemos exposiciones y vídeos en Europa, en Israel".

"Alguna gente dice que son casos aislados. Las madres dicen: mi hijo, que está ahora en el ejército es bueno, no hace estas cosas, esto sólo lo hacen los soldados beduinos o los etíopes. Pero no es cierto. Todos las hacemos, porque es la lógica de la ocupación israelí: aterrorizar a los palestinos".

"Los check points no sirven para detener a los palestinos de entrar a Israel, es para que la realidad no entre a Israel. Porque esta es una sociedad de soldados, todos pasamos por el ejército tres años cuando somos jóvenes y luego un mes al año. Y todos hacemos eso. Por eso existe el muro de silencio, de negación, porque todos somos responsables y no lo queremos admitir".

"Ellos son las víctimas, nosotros los victimarios. Pero como victimarios, también pagamos un precio. Esta es una sociedad que no se anima a mirar a los ojos a la verdad, a sus propios actos. Es una sociedad, como consecuencia, moralmente enferma".
MÁXIMA DIFUSIÓN POR FAVOR.....

Dialética das ondas....

O mar é algo lindo e ao mesmo tempo tão perigoso... no vai e vem das ondas, tão belas e cheias de cor, mas que podem te levar pra dentro do oceano e te engolir.

Uma vez um professor meu comparou a dialética com as ondas do mar.... é... pode parecer meio poético, mas foi interessante pensar nas ondas batendo nas pedras, fazendo aquele barulho gostoso, como uma dialética....uma essência....

Sei lá...

Mas, pensando nas minhas confusões teoricas e metodológicas, acho que olhar o mar me acalma, e ao mesmo tempo me faz pensar mais e mais nas formas como devo proceder diante das minhas indagações.

Trabalhar com coletivos humanos, onde o vai e vem das ondas culturais está presente no cotidiano, e que muda a todo instante, dentro da dinâmica social em que se insere, me faz lembrar que o mar é sempre o mesmo.... mas cada onda é diferente uma da outra... sem deixar de ser mar, mas com a sua peculiaridade, periculosidade, dinâmica, cor, altura, profundidade....

As sociedades humanas também são mares de culturas, onde se misturam coisas, e as coisas que vão pra dentro delas, um dia volta pra praia, trazidas por uma onda.... a cultura de recria a todo instante e a todo instante bate uma nova onda na praia....livre...

O mar guarda segredos, como os povos que mantém coisas guardadas ao meu olhar instigador... mas também traz mistérios, objetos, outros mundos, encurtando as distancias e me mostrando que há muito mais a saber e a revelar... sempre.

O mar não se esgota... não acaba.... se recria...

A cultura human não se esgota, não acaba... se recria...para se manter sempre em construção.

Intrigas intrigantes e um caso de antropologia simétrica....


Pois então... aqui estou eu diante de uma intriga.... me debatendo comigo mesma no meu relativismo... Cansada de enfiar o livro do Da Matta no bolso pra poder tentar compreender o mundo que me cerca.... e nada!

Quero não ter crises de identidade, nem parecer preconceituosa diante de outras pessoas que vivem e pensam diferente de mim... mas me deparo exatamente tendo chiliques com essas 'diferenças' quando elas dificultam meu bem viver....

Fazer o que? Estou longe do meu mundo, me deparo sim com outras lógicas de organização (ou desorganização?!!!) e fico apreensiva...

Sossego um pouco quando falo com outros estrangeiros que estão no mesmo barco... debatendo-se no estranhamento com seus 'outros'... e sentem a mesma apreensão....

Será que é possivel enxergar o outro como ele se vê?

A antropologia simétrica é aplicável de fato....? Conseguimos pensar o outro por ele mesmo? Ou nossas tentativas são vãs e não passam de tentativas mesmo....

Sou uma pessoa criada na cultura cristã-ocidental-capitalista..... sei onde estão as mazelas disso, mas quando tento viver outras formas de filosofia de mundo entro em choque.

Creio que ainda tenho muito a aprender pra conseguir escapar das intrigas intrigantes em que me deparo diante de meu outro.... e enfim compreende-lo por ele mesmo....

E talvez, o proprio fato de me estranhar em comparação com esse 'outro' e dele me julgar e me avaliar seja a maneira mais direta de eu experimentar a sua 'antropologia'... a simetria ou reverso daquilo que sempre fiz.... e que agora me deixo solta pra ser observada e estudada e avaliada por um outro olhar...

Mas... isso não deixa de ser intrigante.... e um tanto assustador.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Por que Flor de Miosotis?



Resolvi colocar este título, em homenagem ao personagem de Milan Kundera, a Agnes... que quando desencantada pelo mundo, pela feiura das coisas a sua volta, pela incertezas que sentia no mundo em que a cercava, pensou que quando nada mais pudesse lhe agradar, ela iria adquirir uma flor de miosótis na florista da esquina, e olharia firmemente pra aquela beleza azul, até que toda a feiura do mundo desaparecesse da sua volta...

Parece meio louco, mas creio que as vezes tenho vontade de ter um flor de miosótis na minha mão ....

Esse livro é muito intrigante...

Entrevista com Eric Hobsbawm, feito pela RST

Trecho de entrevista realizado pela Revista Sem Terra com historiador Eric Hobsbawm sobre atual crise mundial:


Hobsbawm: a Era das Incertezas


Verena Glass


Em entrevista exclusiva à Revista Sem Terra, o historiador Eric Hobsbawm apresenta ao leitor sua avaliação das origens, efeitos e desdobramentos da crise mundial.Desde que sua magnitude se fez sentir, com seus capítulos ambiental, climático, energético, alimentar e, por fim, econômico, acadêmicos, sociólogos, economistas, políticos e lideranças sociais procuram entender e explicar suas causas, e analisar e prever suas conseqüências. Muitos têm buscado respostas e soluções apenas no próprio universo econômico. Outros concluíram que vivemos uma crise civilizatória, e que o capitalismo implodiu por seus próprios desmandos. Mas ninguém parece ter respostas definitivas sobre o que nos prepara o futuro. Assim também Hobsbawm, o maior historiador marxista da atualidade. Aos 92 anos, o autor de algumas das mais importantes obras acerca da história recente da humanidade, como “A Era das Revoluções” (sobre o período de 1789 a 1848), “A Era do Capital” (1848-1875) ,“A Era dos Impérios” (1875-1914) e “A Era dos Extremos – O Breve Século 20”, lançado em 1994, não arrisca previsões sobre como será o mundo pós-crise.
Nesta entrevista, concedida por e-mail de Paris, porém, Hobsbawm apresenta suas opiniões como contribuição ao debate. De certezas, apenas a de que, se a humanidade não mudar os rumos da sua convivência mútua e com o planeta, o futuro nos preserva maus agouros. Cético e ao mesmo tempo esperançoso, não acredita que uma nova ordem mundial surgirá das cinzas do pós-crise, mas acha que ainda existem forças capazes de propor novas formas de organização e cultura políticas e sociais, como o MST.
Revista Sem Terra - O planeta vive hoje uma crise que abalou as estruturas do capitalismo mundial, atinge indiscriminadamente atores em nada responsáveis pela sua eclosão, e que talvez seja um dos mais importantes “feitos” da moderna globalização. Na sua avaliação, quais foram os fatores e mecanismos que levaram a esta situação?
Eric Hobsbawm – Nos últimos quarenta anos, a globalização, viabilizada pela extraordinária revolução nos transportes e, sobretudo, nas comunicações, esteve combinada com a hegemonia de políticas de Estado neoliberais, favorecendo um mercado global irrestrito para o capital em busca de lucros. No setor financeiro, isto ocorreu de forma absoluta, o que explica porque a crise do desenvolvimento capitalista ocorreu ali. Apesar do fato de que o capitalismo sempre — e por natureza — opera por meio de uma sucessão de expansões geradoras de crises, isto criou uma crise maior e potencialmente ameaçadora para o sistema, comparável à Grande Depressão que se seguiu a 1929, mesmo que seja cedo para avaliarmos todo o seu impacto. Um problema maior tem sido que a tendência de declínio das margens de lucro, típico do capitalismo, tem sido particularmente dramática porque os operadores financeiros, acostumados a enormes ganhos com investimentos especulativos em épocas de crescimento econômico, têm buscado mantê-los a níveis insustentáveis, atirando-se em investimentos inseguros e de alto risco, a exemplo dos financiamentos imobiliários “subprime” nos EUA. Uma enorme dívida, pelo menos quarenta vezes maior do que a sua base econômica atual foi assim criada, e o destino disso era mesmo o colapso.
RST - Como resposta à crise econômica, governos e instituições financeiras estão concentrados em salvar os sistemas bancário e financeiro, opção que tem sidoconsiderada uma tentativa de cura do próprio vetor causador do mal. No que deve resultar este movimento?
EH – Um sistema de crédito operante é essencial para qualquer país desenvolvido, e a crise atual demonstra que isso não é possível se o sistema bancário deixa de funcionar.Nesse sentido, as medidas nacionais para restaurá-lo são necessárias. Mas o que é preciso também é uma reestruturação do Estado por exemplo, através das nacionalizações, a “desfinanceirização” do sistema e a restauração de uma relação realista entre ativos e passivos econômicos. Isso não pode ser feito simplesmente combinando vastos subsídios para os bancos com uma regulação futura mais restrita. De toda forma, a depressão econômica não pode ser resolvida apenas via restauração do crédito. São essenciais medidas concretas para gerar emprego e renda para a população, de quem depende, em última instância, a prosperidade da economia global.