domingo, 12 de julho de 2009

Dialogando com as memórias....


Neste texto postado abaixo, o autor nos chama a atenção para a construção de uma memória coletiva, na cidade de Maurília. Memória esta que busca num passado, mitificado pela própria comunidade, as belezas de uma cidade provinciana, que tinha encantos na simplicidade de uma vida que se extinguiu há muito na região.

O romantismo dos cartões postais, das imagens impressas e amareladas de um passado bom, onde havia hospitalidade, inocência, fartura....

Passado este que só fica na memória do presente, que só é inteligivel nesta memória do presente.

Provavelmente aquelas imagens que hoje se apresentam amareladas no papel do cartão, eram na época em que foram feitas, os lugares eleitos como passíveis de serem lembrados no futuro... passíveis de serem perpetuados...

Porque, nem tudo... nem toda a Maurília antiga, pode ser transcrita para o futuro...

Os problemas socias do passado, lá ficaram... só vieram para a memória póstuma aquilo que se considerou belo.

Assim, também esse passado mítico, elaborado, nostálgico, mostra apenas uma via de ação da velha cidade... do lugarejo com galinhas e coreto... com belas mocinhas que passeiam com suas sombrinhas brancas.

Onde está a verdadeira Maurília? Provavelmente na memória de velhos... em outras fotografias... em documentos que salientam a desenvoltura das ações de órgãos públicos... das vendas de terras, dos processos -crimes...

Podem existir tantas Maurílias!!!

A memória coletiva é assim... geralmente busca-se um eldorado num passado nostálgico... principalmente se este passado for oficialmente oferecido aos turistas de hoje, a grupos de frequentadores de museus e casas de cultura. Estes lugares querem mostrar uma cidade bela... querem mostrar belezas que não estão mais ao alcance na cidade moderna...

Mas, preocupam-se com as outras Maurílias? Deixam ver elementos que não foram eleitos para serem congelados num cartão postal?

Geralmente não!

Os elementos que compõem as amostras de museus de cidades são fracos, positivos, lineares... e não cogitam estabelecer uma crítica construtiva através de suas possibilidades de compreensão pelos visitantes. Estas 'verdades' vêm prontas. São modelos pré-estabelecidos por aqueles que querem apresentar 'uma' história...

Os cartões postais trazem muito mais que uma imagem bonita. Trazem escolhas... escolhas de classes sociais, escolhas de lugares a serem congelados na memória coletiva como importantes...mas antes de tudo: traduzem os poderes de uma época, num determinado lugar, pois são veículos de divulgação desse lugar...

Toda fotografia é uma escolha... de ângulo, de cores, de beleza.... um recorte do tempo... um recorte do espaço...

O congelamento de memórias que serão lembradas...

O resto... o não dito... o fora do foco... é pra ser esquecido.... (ou pelo menos essa é a intenção).

Assim se constroem memórias coletivas e 'verdades históricas inconstestáveis'!

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