quinta-feira, 12 de maio de 2011

Tem índio na Universidade!!!!


As preocupações que tenho quanto a inclusão e permanência desses estudantes indígenas na Universidade, é que a academia sempre se mostrou muito fechada aos saberes que ela desconhece, e estes alunos vêm pra Universidade trazendo na bagagem um conhecimento prático, rico, elaborado pelos anos de aplicação e eficácia em suas comunidades.

O saber indígena não é transmitido nas salas de aula, por um professor que fez curso superior para poder estar ali ensinando. Esses saberes são aprendidos durante toda a vida e de forma integrada, não é um saber fragmentado.
Aliás, a palavra 'ensinar' não existe no vocabulário Guarani, por exemplo, apenas o vocábulo equivalente a 'aprender', porque na concepção ameríndia, o ensinamento é na verdade o aprendizado de todos. E isso não tem um tempo definido para acontecer, ele acontece o tempo todo, durante a vida de cada indivíduo e de forma coletiva durante o convívio com a comunidade e a família.
Não são, portanto, concebidos saberes desconectados do todo, como acontece em nossa sociedade.

Isso faz uma grande diferença na forma de elaborar os pensamentos entre essas pessoas, que aprenderam a aprender em grupo, de forma coletiva e integrada ao mundo em que vivem.
Quando esses estudantes chegam aqui na Universidade, descobrem que terão de aprender a aprender de forma fragmentada, como indivíduos, e terão de mudar a forma de elaborar seus pensamento para apreender os novos conhecimentos que exigem uma nova estrutura psicológica para o aprendizado.
É aí que reside a preocupação: será que as Universidades estarão um dia equipadas para trabalharem corretamente com esses outros modos de elaboração filosófica de mundo?
Atualmente, não se tem preparo para receber estes alunos e respeitar essas suas maneiras de ser. O que acaba por acontecer é que a Universidade acaba impondo ao estudante indígena a sua maneira de agir e pensar, forçando-o a mudar para conseguir viver e conviver dentro dela. Mas, quando será que a Universidade vai estar pronta a mudar também para receber estes outros saberes?
É preocupante ver esses jovens que vem lá de suas famílias, muitas vezes desacostumados à correria das cidades e aos prazos curtos impostos pelos ocidentais para desenvolver trabalhos, leituras, artigos...
Essa é uma dinâmica nova em suas vidas. Eles começam a ter uma carga tensa de obrigações que antes não lhes aparecia dessa maneira, já que o trabalho coletivo, o aprendizado harmonizado com as tarefas do dia a dia, lhes fazia ter tempo para o trabalho e para o lazer, fazendo muitas vezes dos dois uma única coisa.
Aqui não é assim. A Academia trabalha com outra lógica de tempo, e esse tempo deve ser customizado, utilizado ao máximo, para dele extrair o máximo de produtos.
Aí está outra questão importante: trabalhamos com a idéia de produção para o excedente. Nós somos obrigados a produzir mais do que precisamos para poder suprir as demandas da sociedade como um todo, e isso está enraizado nas tarefas acadêmicas, que promovem a produção.
Esses estudantes, jovens, que estão começando a se envolver cada vez mais com nossas práticas de desenvolvimento tecnológico, produção em massa, consumo e descarte, começam a perceber as diferenças - principalmente na questão tempo - que os fazem diferentes de nossa sociedade. Essa sociedade desenvolvimentista, que não tem tempo a perder, porque qualquer momento de relaxamento é visto como tempo perdido para a produção.
Isso não acontece desassociado de um quesito muito importante: a competição.
Essa competição é acirrada, e não funciona como no jogo de frescobol, onde ambos jogadores ganham... Aqui a competição se dá de forma brutal, alguém terá de perder para que o outro ganhe. Para os estudantes já acostumados com esse ritmo louco de nossa sociedade, essa competição é vista como incentivadora, já que os fará buscar serem os melhores entre seus colegas para dentre eles se destacarem e ganharem mais espaços, verbas, bolsas, etc.
Entre os indígenas não funciona assim. Não há vantagens em ganhar ou perder, na verdade todos deveriam ganhar e aprender, então, eles se vêem forçados a mudarem inclusive suas concepções de valores para poderem sobreviver dentro dessas novas lógicas de poder.
Há de se pensar em tudo isso. Há de se pensar em como englobar esses saberes indígenas na Universidade sem que deles se roube o encanto.
Há de se pensar como incluir um aluno indígena sem que dele se exiga o desencanto...

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