A inclusão da história e cultura indígenas, assim como de outros grupos sociais e etnias, no currículo escolar brasileiro é um avanço, já que em termos da velha história 'oficial', engessada entre seus heróis e datas festivas relacionadas à feitos militares e políticos, que partiam apenas de uma via, ou seja, aquela que estava 'entronizada' no poder de Estado, hoje já não impera sozinha na construção da cidadania e do nacionalismo.
Hoje, outras vozes vêm compor o coro construtor de um conhecimento mais heterogêneo a respeito das diversas redes sociais, identitárias e etnicas que compuseram a criação de nosso país, bem como do próprio continente americano.
Mas, é preciso salientar que esse evento não surge isolado, nem vem a acontecer por benevolência do Estado ou algo parecido. Ele é fruto da insessante luta dos povos originários por adquirirem espaço e visibilidade dentro desta nação, que se construiu sobre seu território ancestral.
Lembrar que a América, e consequentemente o Brasil surgem a partir da conquista européia sobre outros povos que aqui já viviam a pelo menos 10.000 anos atrás, é pertinente para compreendermos também que estudar e ensinar a história indígena é estudar e ensinar a nossa história, a história do nosso continente.
Houve sempre, nos bancos escolares, a valorização da civilidade, vista esta como uma forma superior da organização social, e se partia do pressuposto que nós, ocidentais, herdeiros das tradições greco-romanas de formação social e do Direito, é que seriamos plenamente civilizados.
Outros povos, que partiam de preceitos sociais diferentes da herança européia, seriam selvagens, bárbaros, incivilizados e portanto, inferiores.
Essa idéia foi plenamente difundida nos bancos escolares, desde sua implantação na sociedade americana que surgia após a conquista, até os dias atuais.
As escolas modernas, surgem no século XX, trazendo ideiais positivistas, de progresso e de civilidade e superioridade da 'raça' branca, a partir da construção científica européia.
Os livros didáticos sempre trouxeram esses ideais muito bem ilustrados em suas páginas, apresentando alguns grupos sociais ou pessoas como fora do padrão de civilidade esperado.
Negros e índios apareciam em determinados períodos da história do Brasil colonial, como meros apêndices - os negros, escravizados, que trabalhavam sob jugo para os Senhores brancos, e os índios como indolentes e preguiçosos, eram indisciplinados demais e fugiam ao trabalho nas lavouras e engenhos de açucar.
Esse senso comum foi se criando e se enraizando nas mentes brasileiras, como se o fato do indígena não se deixar escravizar o tornaria indigno, preguiçoso, maculado (o que não é verdade, pois a própria história confirma que índios foram escravizados sim, muitos foram levados de suas aldeias como escravos e dessa forma participaram da construção das regiões mais desenvolvidas do país hoje - sul e sudeste, vide John Manuel Monteiro em seu livro Negros da Terra).
E quanto a escravização dos negros, que vinham forçados da África, esta aparecia como algo necessário - embora violento e brutal - ao desenvolvimento da Colônia, e portanto o Brasil devia seu crescimento economico aos escravos, porém, não valorizando devidamente o trabalho e a contribuição cultural desses povos que literalmente deram seu sangue nesta terra.
Aos índios sempre sobraram algumas páginas de curiosidades, onde se falavam nos seus 'costumes' de forma generalizada, sem contudo abordar o fato deles terem sempre lutado contra a ocupação européia de suas terras ancestrais. Este é um assunto bastante delicado e não considerado relevante nesse tipo de história, que tenta afirmar o poder dos dominantes e abafar as vozes dos que devem ser dominados.
A negação de um grupo humano, seja ele identitário ou social, sua invisibilização e inferiorização pelo senso comum e pela ciência dita 'moderna' - coloco esta expressão entre aspas, porque relativizo a categoria 'ciência' como sendo apenas o conhecimento hegemônico criado pelas sociedades ditas modernas (vide Bruno Latour em seu livro Jamais fomos Modernos) considerando as ciências das sociedades originárias ou tradicionais tão científicas quanto a das sociedades cristã-ocidentais - é uma forma eficaz para o extermínio físico dessas pessoas.
Atitudes desse tipo foram implementadas por partidos nazistas e fascistas e ainda hoje justificam atitudes brutais de eliminação etnica em muitos setores sociais. Ou seja, a discriminação e o preconceito são ensinados nos bancos escolares. E a escola, sejamos francos, é uma instituição disciplinadora dos corpos e mentes (vide Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir), nos moldes daquilo que Foucault chamou de 'poder', onde somos moldados pelos espaços que frequentamos e vivemos. Somos doutrinados de acordo com a ordem social vigente e reagimos à isso de forma passiva na maioria das vezes, sem nem nos darmos conta do poder que essas forças sociais exercem sobre nossos atos.
A mídia tem um poder avassalador na formação da opinião pública, e infelizmente os canais populares da mídia nem sempre apresentam as realidades de outras vozes que não aquelas que estão no poder (dominantes).
Reforçam, dessa forma, uma idéia equivocada sobre a existência de outras etnias e culturas no país, bem como auxilia no processo de exclusão social, quando aponta negativamente os movimentos sociais.
Há outras formas de informação midiática que apontam para outros lados, porém estas não têm uma repercussão tão intensa, já que a mídia 'alternativa' não atinge a massa popular, onde infelizmente reside a maioria dos escolares.
Fazer este balanço da forma como é ensinado na escola e através de outros veículos que formam nossa opinião a respeito da vida e do mundo em que vivemos, é uma maneira de mostrar como podemos nos deixar manipular pela ordem vigente. Mas, se quisermos olhar em volta, somos bastante capazes de perceber que o mundo em que vivemos é mais colorido e diversificado que nos vem sendo apresentado, e aí está a diferença: podemos e temos poder de mudar as coisas, basta querer ver e querer mudar.
Com a implantação no novas, que colocam em check o velho currículo escolar conteudista já podemos perceber algumas mudanças, embora estas ainda sejam tênues.
Com o ingresso de indígenas e afrodescendentes nas universidades, logo teremos profissionais com outras visões de mundo ingressando no mercado de trabalho e talvez isso já comece a fazer alguma diferença...
A esperança que um outro mundo seja realmente possível é o que me faz continuar trabalhando pra isso.
Hoje, outras vozes vêm compor o coro construtor de um conhecimento mais heterogêneo a respeito das diversas redes sociais, identitárias e etnicas que compuseram a criação de nosso país, bem como do próprio continente americano.
Mas, é preciso salientar que esse evento não surge isolado, nem vem a acontecer por benevolência do Estado ou algo parecido. Ele é fruto da insessante luta dos povos originários por adquirirem espaço e visibilidade dentro desta nação, que se construiu sobre seu território ancestral.
Lembrar que a América, e consequentemente o Brasil surgem a partir da conquista européia sobre outros povos que aqui já viviam a pelo menos 10.000 anos atrás, é pertinente para compreendermos também que estudar e ensinar a história indígena é estudar e ensinar a nossa história, a história do nosso continente.
Houve sempre, nos bancos escolares, a valorização da civilidade, vista esta como uma forma superior da organização social, e se partia do pressuposto que nós, ocidentais, herdeiros das tradições greco-romanas de formação social e do Direito, é que seriamos plenamente civilizados.
Outros povos, que partiam de preceitos sociais diferentes da herança européia, seriam selvagens, bárbaros, incivilizados e portanto, inferiores.
Essa idéia foi plenamente difundida nos bancos escolares, desde sua implantação na sociedade americana que surgia após a conquista, até os dias atuais.
As escolas modernas, surgem no século XX, trazendo ideiais positivistas, de progresso e de civilidade e superioridade da 'raça' branca, a partir da construção científica européia.
Os livros didáticos sempre trouxeram esses ideais muito bem ilustrados em suas páginas, apresentando alguns grupos sociais ou pessoas como fora do padrão de civilidade esperado.
Negros e índios apareciam em determinados períodos da história do Brasil colonial, como meros apêndices - os negros, escravizados, que trabalhavam sob jugo para os Senhores brancos, e os índios como indolentes e preguiçosos, eram indisciplinados demais e fugiam ao trabalho nas lavouras e engenhos de açucar.
Esse senso comum foi se criando e se enraizando nas mentes brasileiras, como se o fato do indígena não se deixar escravizar o tornaria indigno, preguiçoso, maculado (o que não é verdade, pois a própria história confirma que índios foram escravizados sim, muitos foram levados de suas aldeias como escravos e dessa forma participaram da construção das regiões mais desenvolvidas do país hoje - sul e sudeste, vide John Manuel Monteiro em seu livro Negros da Terra).
E quanto a escravização dos negros, que vinham forçados da África, esta aparecia como algo necessário - embora violento e brutal - ao desenvolvimento da Colônia, e portanto o Brasil devia seu crescimento economico aos escravos, porém, não valorizando devidamente o trabalho e a contribuição cultural desses povos que literalmente deram seu sangue nesta terra.
Aos índios sempre sobraram algumas páginas de curiosidades, onde se falavam nos seus 'costumes' de forma generalizada, sem contudo abordar o fato deles terem sempre lutado contra a ocupação européia de suas terras ancestrais. Este é um assunto bastante delicado e não considerado relevante nesse tipo de história, que tenta afirmar o poder dos dominantes e abafar as vozes dos que devem ser dominados.
A negação de um grupo humano, seja ele identitário ou social, sua invisibilização e inferiorização pelo senso comum e pela ciência dita 'moderna' - coloco esta expressão entre aspas, porque relativizo a categoria 'ciência' como sendo apenas o conhecimento hegemônico criado pelas sociedades ditas modernas (vide Bruno Latour em seu livro Jamais fomos Modernos) considerando as ciências das sociedades originárias ou tradicionais tão científicas quanto a das sociedades cristã-ocidentais - é uma forma eficaz para o extermínio físico dessas pessoas.
Atitudes desse tipo foram implementadas por partidos nazistas e fascistas e ainda hoje justificam atitudes brutais de eliminação etnica em muitos setores sociais. Ou seja, a discriminação e o preconceito são ensinados nos bancos escolares. E a escola, sejamos francos, é uma instituição disciplinadora dos corpos e mentes (vide Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir), nos moldes daquilo que Foucault chamou de 'poder', onde somos moldados pelos espaços que frequentamos e vivemos. Somos doutrinados de acordo com a ordem social vigente e reagimos à isso de forma passiva na maioria das vezes, sem nem nos darmos conta do poder que essas forças sociais exercem sobre nossos atos.
A mídia tem um poder avassalador na formação da opinião pública, e infelizmente os canais populares da mídia nem sempre apresentam as realidades de outras vozes que não aquelas que estão no poder (dominantes).
Reforçam, dessa forma, uma idéia equivocada sobre a existência de outras etnias e culturas no país, bem como auxilia no processo de exclusão social, quando aponta negativamente os movimentos sociais.
Há outras formas de informação midiática que apontam para outros lados, porém estas não têm uma repercussão tão intensa, já que a mídia 'alternativa' não atinge a massa popular, onde infelizmente reside a maioria dos escolares.
Fazer este balanço da forma como é ensinado na escola e através de outros veículos que formam nossa opinião a respeito da vida e do mundo em que vivemos, é uma maneira de mostrar como podemos nos deixar manipular pela ordem vigente. Mas, se quisermos olhar em volta, somos bastante capazes de perceber que o mundo em que vivemos é mais colorido e diversificado que nos vem sendo apresentado, e aí está a diferença: podemos e temos poder de mudar as coisas, basta querer ver e querer mudar.
Com a implantação no novas, que colocam em check o velho currículo escolar conteudista já podemos perceber algumas mudanças, embora estas ainda sejam tênues.
Com o ingresso de indígenas e afrodescendentes nas universidades, logo teremos profissionais com outras visões de mundo ingressando no mercado de trabalho e talvez isso já comece a fazer alguma diferença...
A esperança que um outro mundo seja realmente possível é o que me faz continuar trabalhando pra isso.
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