domingo, 31 de janeiro de 2016

Porque uma Flor de Miosótis... ou os gritos da liberdade!



Há dois anos não escrevia aqui. Há dois anos...
Sempre que retomo o blog sinto necessidade de explicar porque escolhi esse nome, pois ele é significativo demais pra ser apenas o nome do blog... ele é a fuga da Agnes no livro que deu origem a este diário virtual... e sim... eu amo aquele livro.
No entanto senti vontade de retomar o blog.. retornar a escrever minhas ideias e inquietações e reativar a Flor de Miosótis. Não que os motivos sejam os mesmos da origem, mas ainda assim a vontade de gritar ao mundo me faz escrever... e escrever alivia as tensões e dá um jeito de organizar a desorganizada cabeça dessa ariana aqui.
Estou fazendo mudanças na vida.. mudanças que requerem organizações... vou precisar do blog novamente...
Lembro que criei o blog exatamente porque precisava gritar... estava lá, em 2009 vivendo numa tempestade de sentimentos, angustias, incertezas... Num relacionamento confuso, onde me sentia bem como a Agnes do livro do Kundera, presa, vendo a feiura do mundo a minha volta e me sentindo presa, acorrentada aos padrões da vida.
A sociedade em geral nos obriga a seguir os tais padrões e quando menos esperamos estamos ali feito ovelhas obedecendo a tudo e a todos. É difícil cortar essas correntes, pois acabamos sendo apontados como loucos, desordenados, incorretos...
Mas viver nesses padrões e ver a feiura do mundo é impossível. Somente quando somos cegos e não notamos os gestos, as delicadas sutilezas das coisas ao nosso redor, podemos viver nos padrões, como ovelhas, na mesmice do lugar comum.
Minha identificação tão profunda com as personagens de Milan Kundera são por isso... essas mulheres que ele cria em seus textos são fortes, intensas... e não estão ancoradas na mesmice do mundo, mas sim olhando pra esse mundo com olhares perspicazes, esmiuçando os detalhes, as sutilezas e tecendo criticas... buscando mudanças...
Quando disse que criei o blog porque precisava gritar... era exatamente o que queria fazer: GRITAR!!!
Dizer : Me veja, me olhe como eu sou... olhe pra mim... pra dentro de mim... não tente apenas ver minha casca, minha embalagem... não determine em mim o que você quer, mas olhe pra mim... me enxergue por favor!!!
Vivemos relações fúteis. As pessoas se negam a olhar as outras como estas são realmente e preferem ver apenas o que querem ver. Olhar para espelhos é mais fácil do que encarar realidades que vão confundir e rebentar com suas certezas. Eu vivia um relacionamento de espelhos. A pessoa ao meu lado me enxergava como seu reflexo, ou ao contrário se refletia em mim ou naquilo que queria que eu fosse. Não entendia meus sinais, não me via de verdade, não conseguia observar os gestos e as minhas sutilezas... e eu estava sufocando... bem ali ao lado dele... sufocando e me debatendo na minha falta de ar... e ele não via.
Gritar num blog foi um alívio. Não foi entendido pelo companheiro como esperado por mim, que ele enxergasse meu pedido de socorro, mas resultou para mim a voz que eu precisava soltar para não morrer sufocada na minha solidão. E isso me deu fôlego pra seguir, pra pensar, pra organizar ideias e finalmente me libertar daquilo.. me libertar do meu sufocamento, da coisa que me prendia...
Hoje grito.. e grito alto...a sociedade tende a nos sufocar sempre... há sempre amarras, coisas pré determinadas que nos fazem seguir como ovelhas num brete, mas há formas de mudar os caminhos, sempre há... basta não ser normal.. não seguir os padrões que nos são impostos, não ligar pras falas e olhares reprovadores... gritar DANE-SE...
Ser livre é a maior e melhor escolha a se fazer, mas implica na maior e melhor responsabilidade também. Ser dono de nós mesmos requer maturidade. Maturidade esta que não está associada a rigidez, a ser sisuda e mal humorada, a ser séria e carrancuda... não... maturidade pra reconhecer erros, pra rir deles, pra tentar de novo, pra fazer o que nos dá vontade não importando o que vão pensar ou falar a nosso respeito, pra vestir o que nos dá prazer, pra colher uma flor no parque e colocar no cabelo, abraçar um desconhecido na rua e dar bom dia, dançar na chuva, andar descalça, comer algodão doce no parque de diversões... enfim, maturidade pra se deixar ser feliz, pra se permitir ser quem somos da melhor maneira possível e da forma mais escancarada...
Desde que minhas amarras foram cortadas e me vi livre não quero nunca mais voltar pra nenhuma gaiola, pouco me importa se aos olhos da sociedade sou louca... ser louca é a maior prova de amor que já dei a mim mesma.


domingo, 20 de outubro de 2013

Viver com as cores do Arco Íris!!!



Sou uma pessoa colorida!
Todo mundo me diz isso: que sou uma pessoa colorida!!!!
Vamos ver o que pode significar ser alguém colorido.... una persona Arco íris!!!
Gosto de cores, coloco no meu visual muitas cores... Gosto de preto, que congrega todas as cores!!!
Mas, quando me falam que sou uma pessoa colorida acredito que isto não é só o reflexo das minhas roupas e acessórios - que sim, são bem coloridos, assim como os petrechos da minha casa - mas o reflexo, principalmente, do meu estado de espírito.
Na verdade as minhas roupas são um reflexo do meu estado de espírito.
Desde criança nunca fui de seguir padrões, e sempre gostei de ser original.
Não me preocupo com modas e idade... uso o que me faz bem e me deixa feliz!!!
O meu objetivo principal na vida é sempre será ser FELIZ!!!
Isso é o que me faz 'colorida'.
Pessoas deveriam ser mais coloridas, assim teríamos menos tristezas no mundo. Arco íris é um efeito de luz que traz sempre alegria!
Afinal, ele vem após a chuva, após aqueles dias cinzentos, acabrunhados... e traz novamente a alegria, porque traz cor ao mundo.
Ele está associado ao sol, que é outro elemento que é quase sinônimo de felicidade! A luz é um tipo de coisa que dá sensação de felicidade.
Tem vezes que sou um dia nublado, as vezes uma verdadeira tempestade, mas sempre terei o arco íris para aplacar esses dias tristes e cinzas e me fazer colorida...
Ser colorida é uma dádiva... um privilégio, que infelizmente muitas pessoas não tem...
Acredito que quanto mais vidas coloridas se espalharem pelo mundo, menor será o consumo de drogas tarja preta!!!
Tá aí um desafio:
Diminuam o consumo de tarjas pretas e consumam mais arco íris!!!
A vida agradece!!!

sábado, 12 de outubro de 2013

O Machismo nosso de cada Dia: ou as arrebatadas lições de moralismo a que nos acostumamos desde a infância



Hoje é 12 de outubro... emblemática data do Dia da Criança....
Em verdade o feriado não é em função disto, e sim do fato que 12 de outubro é uma data cristã em homenagem a padroeira do Brasil: Nossa Senhora Aparecida.... a santa negra!!!
Bem, ninguém lembra disso, ou pelo menos boa parte da população que usufrui do feriado e dá presentes aos seus filhos... não lembra disso...
Não sou cristã, como a maioria das pessoas que leem meu blog já sabem... e não vim aqui defender o dia da santa... mas porque não lembrar desse detalhe né... já que a 'santa' faz parte também do imaginário geral sobre as mulheres boas, puras, imaculadas... umas santas!!!! Aquelas 'pra casar'....
Bem, mas os tempos são outros, eu diria, os tempos são novamente outros, porque a cada dia temos um novo tempo, uma nova chance de sermos quem somos, de mudar, de fazer coisas, de aprender.
No entanto, falo aqui do tempo histórico, de uma geração, de uma era... Uma Era, uma geração em que as mulheres não deveriam mais ser vistas e tratadas como coisas à serviço do mundo masculino, porém, esses tempos, apesar de diferentes, pouco divergem, pouco se diferenciam dos tempos de nossas avós.... pois apenas na aparência houve realmente essa mudança, já que as mentalidades seguem enraizadas nos mesmos paradigmas de antigamente.
Andava eu lendo umas 'pérolas' escritas na década de 1950, a respeito do 'bom comportamento' esperado das mulheres do século XX, escritos por Plínio Salgado, e tinha vontade de chorar ao perceber que aquelas 'orientações' ainda são tão presentes em nossos dias. Com tristeza inclusive, tenho que admitir que muitas delas são esperadas e orientadas pelas próprias mulheres!!!
É penoso admitir isso, mas há tempos me incomoda o fato de que sempre cobramos e julgamos os homens como responsáveis pelo machismo e a discriminação para com o gênero feminino, mas não se pergunta: Quem educa os homens?
As mulheres são mães, e em geral são elas que se ocupam quase que absolutamente pela educação das crianças, portanto educam os homens... tanto os pais das crianças que acabam desonerados da tarefa de educar os filhos, bem como educam seus filhos meninos a se comportarem como 'homens' no futuro. Porque antes de sermos homens e mulheres, somos simplesmente crianças... bebês que recebem de suas mães - mulheres - as primeiras orientações para se tornarem pessoas nesse mundo.
É claro que recebemos influências de pais, avós, tios, tias, amigos, professores e todo o resto do mundo que cerca a criança, mas a mãe, por si só e por abrigar essa responsabilidade (que também é algo imposto sobre ela pela sociedade) é uma influência fortíssima, sendo que o pai também deveria ter seu papel de responsabilidade mais cobrado na educação e cuidado com os filhos... porém nem sempre é assim.... por conta da própria sociedade e da educação que recebemos e reproduzimos....
Me incomoda e eu questiono, o porque continuamos a educar meninos e meninas como se estes vivessem em mundos diferentes, paralelos e praticamente opostos?
Porque meninos 'devem' brincar de carrinho e usar azul e meninas 'devem' brincar com bonecas e vestir rosa? Porque pais ficam horrorizados - ainda hoje ficam!!!! - se o filho - um menino - resolve brincar de casinha com a irmã ou uma amiguinha? Porque na própria escolinha as professoras (geralmente são mulheres que se ocupam da educação infantil) separam as crianças por gênero na hora das brincadeiras? E mesmo quando as crianças buscam brincadeiras e brinquedos que não são os determinados como corretos para o seu gênero, as professoras incentivam a mudar de brinquedo?
Porque não incentivar os meninos a brincar na casinha de bonecas junto com as meninas e as meninas a se envolverem num jogo de futebol junto com os meninos???
Sei que há escolas que incentivam isso, mas estas são tidas como 'alternativas' e os pais que colocam seus filhos lá sabem o que estão buscando... São aqueles pais que já repensam o papel das crianças em casa e reorientam essa educação fragmentária, mas isso não é o comum... isso é o alternativo!!!
O comum, é um pai (geralmente eles...) ou uma mãe se indignar se a escolinha 'obriga' o seu filhO a brincar com meninas, e vice versa...
Onde já se viu... estão incentivando o seu filho a ser gay ou a sua filha a ser lésbica!!!???
Oras, as pessoas ainda não conseguem entender que isso não é uma questão de incentivo e sim uma escolha individual, ou até mesmo uma questão biológica, um desejo, um querer... não se educa para a homossexualidade, se nasce homossexual.
Semana passada, fazendo compras no Big em Pelotas - RS, me deparo com uma cena dessas... Havia uma oferta de copos infantis, daqueles com canudinhos, e um menino de uns 5 ou 6 anos escolhia um copo junto da mãe, no supermercado. Ele havia pego um copo rosa, cheio de desenhos de flores ou algo assim.... e mãe dele bruscamente tirou o copo das mãos do menino e colocou outro azul, com desenhos de carrinhos, dizendo:
- Este aí é de menina, este aqui é que é de menino!!!
Ou seja, ela proclamou que meninos só podem gostar de azul e de carrinhos!!! Ensinando que há um comportamento diferenciado e que este se apresenta ao mundo pelos gostos e usos das coisas que lhe representam.... Estamos aí diante de um futuro homem que vai reproduzir o machismo... incentivado pela sua mãe...
Mas, voltando ao machismo nosso de cada dia.... esse comportamento é diariamente reproduzido e ensinado, na sociedade inteira, pelas mães, professoras, mulheres em geral, que passam a cobrar de outras mulheres aquele comportamento pré determinado nos catecismos religiosos, nos livros de moral e civismo, na educação para o lar e outras coisinhas que sempre colocaram os homens num quadrado e as mulheres no outro.
Não digo aqui que as mulheres para impor sua presença no mundo masculino (aliás detesto essa categorização... não existe mundo masculino e mundo feminino.... existe um mundo e vivemos todos nele, juntos!!!) deve se comportar como maus homens (porque muitas vezes acontece isso... mulheres tentando impor-se reproduzem aquilo que mais repudiamos no comportamento masculino). Já ouvi e vi muitas mulheres defenderem comportamentos execráveis como desculpa de que se os homens podem elas também podem.... Isso não resolve o problema... e talvez crie outros....
Comportamento é algo individual... cada um sabe de sua vida e faz com ela o que quiser.... ninguém tem o direito de criticar este ou aquele comportamento desde que este não afete a sociedade como um todo.... 
Mulheres que saem e transam com quem quiser é problema delas... mas isso não dá direito a homens mau caráter de exporem essas transas publicamente como ocorreu recentemente com uma garota de 19 anos que foi exposta pela internet por um cara com quem ela saiu e transou.... Isso é repugnante, pois o cara se comportou exatamente como a sociedade (ou talvez seus pais e amigos) esperavam dele: tratou a garota como uma 'coisa'... um ser desprezível... e não pensou que isto afetaria diretamente a pobre menina na sua vida cotidiana, pois claro que essa nossa sociedade podre e cheia de preconceitos, não viu no comportamento do cara uma atitude execrável... mas no fato da menina estar transando e se deixar filmar.... uma atitude reprovável.... 
Ela tem o direito de transar com quem ela quiser e fazer o que ela quiser... o cara não tinha o direito de expor isso... mas o fez, baseado na forma como a nossa sociedade vê o comportamento esperado de uma mulher como de uma 'santa', com o recato e negação de qualquer desejo ou fantasia sexual....
 Expor experiencias sexuais de outros, sejam elas de mulheres ou de homens, é deprimente... e se esse comportamento se tornou uma marca da liberdade masculina, ele deveria ser revisto e repensado, porque as pessoas não são objetos, não deveriam agir como objetos, nem tratar os outros como objetos...
Sexo pra mim não é tabu, não vejo problema algum em usufruir de um sexo casual ou um relacionamento livre entre amigos... Encontrar alguém que lhe agrade e transar é uma coisa saudável... e boa.... 
O que acho problemático é a ostentação de um comportamento que trata as pessoas como coisas insensíveis e descartáveis.....
Quando falo e incentivar meninos e meninas a brincarem juntos e dividirem juntos os aprendizados nas brincadeiras de casinha, bola, carrinhos, etc.. é com a intenção de que eles percebam que as competências não são diferentes e que homens e mulheres devem saber viver tanto a sensibilidade feminina quanto a ousadia masculina.
Homens são mais aventureiros.... mulheres são mais delicadas.... Isso é construção!!! Isso é relativo!!! E na maioria das vezes não é observado diretamente no indivíduo as suas qualidades e desejos e sim incutido nesse indivíduo aquilo que a sociedade de gênero espera dele.
Porque mães, muitas vezes, enfiam camisinhas nas carteiras do filho adolescente quando este vai viajar, mas não fazem o mesmo quando a filha vai viajar?
Há uma negação velada, de que as mulheres tem os mesmos desejos sexuais que os homens. O filho pode e é incentivado (fato das camisinhas estarem na mochila) a transar com as meninas 'fáceis', mas a filha é reprimida nesse aspecto, por ser este um comportamento de 'meninas fáceis'.
Isto é terrivelmente machista. Porque as próprias mulheres (mães) vêem as mulheres (meninas fáceis) como depreciativas e como objetos. Porque essa mãe não incentiva o filho e a filha a terem relacionamentos prazerosos!!!??
Sem apontar ninguém como objeto ou coisa a ser usada, e sim a terem relacionamentos saudáveis, instrutivos, bacanas....
Um menino não vai casar com a menina que ele conheceu numa festa ou viagem. Uma menina tampouco.... Não necessariamente....
Mas, nesse caso e outros, não há porque tratar a situação dessa maneira: o menino se autoafirma 'comendo' o maior número de meninas possível (e isto além de incentivado pelos pais e festejado quando acontece!!). A menina se o fizer, é punida, pois passará a fazer parte das 'meninas fáceis', que foram os troféus obtidos pelo seu irmão e festejados pelos seus pais...
Essa lógica é absurda!!! Porém é uma lógica ainda muito corrente na sociedade atual e que estampa por demais o comportamento adulto de homens e mulheres, que seguem na vida a se tratar como coisas e não como pessoas.
Feminismos, machismos e todos os 'ismos' não mudam de fato o comportamento humano, o que muda são as atitudes. Homens e mulheres tem suas diferenças biológicas sim, mas ambos são necessários ao mundo...
As mulheres não são só meros depositários de embriões para perpetuar a espécie, assim como homens não são apenas os fornecedores dos espermas para gerar esse embrião. A educação das novas gerações humanas dependem de uma nova concepção de mundo, onde homens e mulheres sejam iguais e diferentes, possuindo atributos que complementem um ao outro e que ambos saibam dominar.
Mulheres frágeis, que não trocam uma lâmpada na casa em que vivem devem entrar em obsolência.... e homens que não sabem sequer lavar uma louça ou fritar um ovo também!!
O que nos diferencia é puramente biológico... o resto é cultural!!! E esse resto pode e deve ser mudado já. 

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Seres humanos, esses seres difíceis


Enfim.... a vida é mesmo assim!!!!
Os seres humanos vivem a reclamar da solidão, da dificuldade de ser feliz, do trabalho estafante, de como a vida é difícil e tudo o mais.... Mas, quem torna tudo isso tão difícil?
Será que não somos nós, os próprios humanos que dificultamos tudo a nossa volta?
Parece incrível, mas quando se propõe algo pra simplificar a vida e simplesmente VIVER, as pessoas se apavoram....
Tudo tem que estar dentro das regras. Regras essas inventadas pelos próprios humanos!!!
Surreal!!!
Os relacionamentos humanos deveriam ser mais leves, mais tranquilos, mais felizes....
As pessoas deviam se amar e pronto... sem cobranças, medos, incertezas....
Porque o medo da maioria das pessoas em se relacionar com outras pessoas?
É tudo tão simples!!! Basta não dificultar as coisas pra sermos felizes.... simples assim....
Mas não.... aí não seriamos HUMANOS....malditos humanos.....
O jeito é ir levando e tentando sobreviver a esse mundo maluco.
Queria que as pessoas pudessem compreender que a coisa mais importante da vida é sermos felizes.... e sermos livres é o início dessa tal felicidade.... Então pra que prender as pessoas? Pra que cobrar delas coisas que não deviam nos importar? Por que fugir com medo dessas prisões imaginárias?
O resultado disso é que as pessoas estão vivendo cada vez mais sozinhas.... mais tristes, mais neuróticas.... e tendo mais úlceras!!!
Queria um mundo diferente.... um mundo livre... onde as pessoas pudessem amar, serem amadas, tocar e serem tocadas sem achar que estão sendo colocadas dentro de celas, algemadas ou acorrentadas...
Outro dia, conversando com um amigo, ele me fala da namorada (pelo jeito agora noiva - que palavra esquisita e carregada de uma conotação subjugadora), e me diz que agora não vai mais a festas, por que está usando uma 'correntinha', e me mostra a aliança no dedo (outro gesto estranho pra mim, e cheio de um simbolismo que vai contra tudo em que acredito.... jamais colocarei algo do tipo em meu dedo!!!)
Se a pessoa se sente acorrentada por estar ligada a alguém que ela diz que ama, eu começo a duvidar desse sentimento.... E essas pessoas que supostamente se amam deixam de sair de casa, ir a festas, andar com amigos e se divertir... Por que? Isso é no mínimo imbecil.... pois é obvio que a relação vai sofrer danos terríveis com esse tipo de atitude.... Ninguém vive sozinho e uma pessoa só nunca será tão completa pra sanar todas as necessidades de outra.... se isolar é o começo para um fim trágico em qualquer relacionamento!!!
Mais uma vez afirmo: sou muito esquisita.... não consigo entender esse mundo maluco em que vivo!
Pra mim, o amor devia começar pela liberdade.... não gosto de ficar presa e muito menos de prender outros seres vivos.....
Aceitar as coisas como as coisas são, as pessoas como as pessoas são sem tentar muda-las, ou faze-las se parecer conosco.... Pra mim isso é o que importa num relacionamento, começando pela amizade.... e se gostar, indo para outros caminhos, mas nunca, jamais suprimindo a liberdade de ninguém....

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Eu não sou mulher!!!


Pois bem, estava eu em Pelotas Town, hoje por volta do meio dia, e eis que entro num boteco pra comprar água - o calor tava de lascar e eu com sede de camelo. 
Vou até o balcão em busca de alguém que atenda minha necessidade pelo líquido sagrado e olho pra uma TV que estava ligada, onde passava uma reportagem de carnaval, já que estamos a festejar a quaresma!!!
Na tela, uma moça rebolativa se mexia mais que cobra mal matada. Portadora de um traseiro por demais avantajado, este mal coberto por um shortinho que mal e mal cobria as carnes da moça. E com o mexe e remexe todo, o dito cujo ia sendo engolido pelas polpudas nádegas enquanto a singela donzela fazia acelerados movimentos de vai e vem em direção ao chão!!!
Pedi minha água, mas não deixei de notar que no balcão se acotovelavam dois belos moçóilos, que olhavam fixamente para a tela da TV. Enquanto a moça que me atendia me entregava a garrafinha, ouvi um dos caras comentar com o amigo: 
- Isso é que é mulher!!!
Peguei minha garrafinha e fui lá pagar o moço do caixa e saciar minha sede... mas não pude sair dali sem ficar matutando naquela frase tão pouco sútil, dita pelos belos rapazes no bar.
Caramba, pensei... Aquilo é que é mulher???
Tudo bem, sou bem chegada à algumas frescurites, tipo, unhas pintadas - mesmo quando estou em campo, e pra quem não sabe a autora deste blog trabalha como arquéologa - maquiagens (amo!!!), saias, vestidinhos, saltos altos e todas as coisinhas que os homens gostam de dizer que é coisa de mulherzinha... Sim, sim... sou uma arqueólogia meio patricinha...
Mas não sou mulher!!!!
Detesto acordar cedo e tenho um humor pouco interessante pela manhã, mas se precisar salto da cama as 5h da madrugada para prospectar, escavar, limpar terreno do sítio com enxada, e todas as tarefas que envolvem minhas atividades profissionais, sem reclamar (muito) e ainda faço piada o dia todo pra descontrair, e a noite visto glamourosamente meus vestidinhos e me ponho no salto pra festear com os amigos...
Mas, não sou mulher!!!!
Adoro conversar sobre política, economia do país, música, cinema e tantas outras coisas... Curto encontrar quem discuta comigo sobre aquele cartunista italiano, que se inspirou nele mesmo pra compor um personagem fantástico... e como o traço daquele desenhista alemão é perfeito e retrata o submundo de Berlin de uma forma chocante... e nossa, e como os poemas daquele poeta uruguaio, que infelizmente faleceu ano passado, são lindos e tocantes... que alma tinha aquele homem!!!
Mas eu não sou mulher!!!
 Cumpro minhas tarefas, trabalho com competência, faço minha maquiagem em minutos - já deixei algumas amigas espantadas com a prática e a rapidez com que passo delineador nos olhos. Acredito que batom e delineador preto são itens indispensáveis na minha vida...
Mas não sou mulher!!!
Mato baratas, faço encamento hidráulico, conserto janelas e utensílios em casa, limpo a caixa de gordura quando necessário.... Tudo isso, sem descer do salto, e com muita feminilidade...
Mas, não sou mulher!!!!
Acredito que posso cuidar do meu corpo e da minha alma, juntos... Não quero ficar decrépita e desmanzelada... me amo e por isso cuido bem de mim, uso cremes pra prevenir rugas, pinto cabelo, faço ginástica.... pois quero me sentir bem, mas não quero virar um robô de plástico. Me choca ver pessoas que transformam-se em bonecas!!! Bundas grandes, seios siliconados, cabelos alisados a ferro... Um envólucro para um cérebro de ervilha... Uma embalagem bonita que envolve uma ervilha rugosa e amarela (quem lembra das aulas de genética e as tais ervilhas rugosas e lisas; amarelas ou verdes???). O que vai acontecer com a ervilha quando a embalagem se rasgar, pois embalagens não são duráveis?
Prefiro não ser 'mulher', não ser qualquer 'mulher'. 
Prefiro saber que venho fazendo jus ao empenho da espécie humana no processo evolutivo, que depois de aderir ao bipedismo, conseguiu aumentar o volume de nossa massa encefálica, a ponto de fazer crescer nossa caixa craniana, o que levou nossos filhos a nascerem prematuramente, embora junto a isso tenha-se dado inicio aos vários processos culturais que vêm a ser o princípio da diversidade humana no mundo. 
Essa massa encefálica que é capaz de raciocinar, criar, inventar, produzir, manufaturar... é o que nos faz diferentes de nossos primos símios... pois somos provenientes do mesmo tronco evolutivo. Se tomamos o mundo em nossas mãos e hoje nos consideramos os seres vivos dominantes no planeta é porque sabemos usar a massa encefálica - inclusive para dominar nossa própria espécie, infelizmente. Sejamos Homo sapiens sp... sejamos críticos... sejamos inteligentes!!!
Eu não sou mulher!!!
Eu descobri que felizmente sou um espécime raro do Homo sapiens sapiens, do gênero feminino!!!!

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Sonhos de liberdade... sonhos de solidão...

Pode parecer estranho, mas quanto mais o tempo passa, mais me sinto como a Agne, a personagem que deu origem ao nome deste blog. Quando estou cercada de gente, quero estar só. Quando estou só, sinto falta de gente....
Ó mente confusa a minha!!!! Queria muito uma flor de miosótis nestas horas... olhar por infinito azul... olhar, olhar... e nunca mais voltar de lá.....
Tenho pensado, nestes dias, em como minha vida está precisando de um 'up'... não estou satisfeita - tá, sei que sou a criatura mais chata do planeta, e é dificil que eu esteja satisfeita... tô sempre buscando algo... que as vezes nem sei o que é, mas busco algo..... nunca paro... nunca consigo parar num lugar só, fazer uma única coisa, pensar uma única coisa... Talvez tenha uma mente inquieta demais!!!
Mas, em épocas festivas, como carnaval, natal, ano novo... essas coisas que as pessoas normais curtem e onde pessoas normais se divertem, me deixam deprimida. Não consigo achar graça nisto tudo, nos sorrisos, nos gestos exagerados de alegria, naquela euforia toda....acho tão patético...(talvez eu é que seja patética, pois não consigo me divertir como os outros e acho chato)
Gosto de fugir pro mato nessas épocas, ficar longe de gente, do barulho, de tudo... e ficar sozinha comigo mesma e o som de uma cachoeira derramando água....
É...não sou afeita a muitos calores... não gosto muito de gente...embora as vezes precise de um abraço... mas não digo isso pra ninguém nem sob tortura!!!!!!!!!!!!!!!
Minha liberdade requer solidão. Só me sinto realmente livre quando estou sozinha, longe do mundo....
Caramba eu sou muito esquisita!!!!!! 
Meu futuro, creio, será numa cabana, numa praia deserta, com meus cds, meus gatos e meus livros...
Isso é tudo ou encontro por aí uma flor de miosótis e piro nela até o fim dos meus dias.

domingo, 15 de janeiro de 2012

E eis que me afasto do porto.... e vejo um mar...um mar com novos horizontes

Acho que estou realmente precisando desabafar.... fazia horas que o pobre blog andava as traças, sem postagens nem atenção de minha parte. Ele, coitado, que foi criado pra me dar alento nessa ardua tarefa de escrever!!!!
Buenas, de volta a ele, o blog, mas cada vez mais afastada da história... não digo da História em si, mas da disciplina história. Sinto que meu trabalho, meus anseios, me levam pra novos horizontes... outros mares a serem navegados....
Na realidade, nunca me senti uma historiadora de verdade, sempre flertei com outas áreas da ciência desde meu ingresso no curso de história, lá pelos idos de 1997, na UFRGS. Quase me mudei pra biologia, e só não o fiz por causa do namorado.... (essas coisas do coração que levam a gente mais do que são levadas pela gente né...)
Não me arrependo, gostei do curso, dos colegas, da história... mas, mesmo lá naqueles anos... minha história era arqueologia, não era história propriamente dita... Nunca quis ser professora, ou estar numa sala de aula de uma escola... queria a pesquisa, queria o campo, e queria o embate.... 
Quando descobri o que podiamos fazer no âmbito da consultoria técnica, me apaixonei!!!! Era isso!!! Era ali que eu gostava de atuar!!! Na área de arqueologia, ou junto as comunidades, principalmente nas comunidades indígenas... amava ter de fazer laudos técnicos, ter de ir a campo, fazer as entrevistas, as etnografias, e finalmente ir ao embate em defesa dessas comunidades e do patrimônio arqueológico...
Descobri aos poucos que o que eu amava estava ligado a construção de políticas públicas, a defesa dos direitos desses povos e do nosso patrimônio material e imaterial....
Não sou boa professora. Não me sinto a vontade numa sala de aula com crianças esperando de mim o que não tenho pra dar... Mas, me sinto plenamente feliz e a vontade no campo... e também na defesa pública, nos fóruns e Ministérios Públicos, onde posso realmente falar do que entendo e do que amo fazer.....
É... mas minha tese é na História.... porém cada vez mais vejo nela tudo, menos história!!!
Estou a trabalhar com políticas públicas, documentos contemporâneos escritos pelas comunidades indígenas, legislação ambiental e direito internacional!!!! Cadê a história? Não sei!!!
Talvez a antropologia possa me dar um alento, as pinceladas de arqueologia que permeiam meus argumentos, mas história!!!! Não há. Não estou conseguindo colocar a bom termo argumentos históricos plausíveis, pois não é de meu interesse. 
O capítulo em que deveria contextualizar a história dos Guarani na região da Serra do Tabuleiro está recheada de minhas experiências etnográficas, de documentos provenientes de estudos de impacto ambiental e coisas do tipo.... 
Bem, argumento que isso também é história!!! Fazemos uma história do tempo presente aqui.... mas...
Enfim.... como desabafo.... já que escrevo sozinha, pois meu (des)orientador não existe...vou continuar neste caminho... é o que sei fazer, é o que gosto de fazer..... só acho que estou na instituição errada e no curso errado.... então veremos....
A vida é mesmo assim...

sábado, 14 de janeiro de 2012

As voltas com a 'Maledeta'....

Incrível como é possivel um assunto que tanto me agrada me dar tanta dor de cabeça. Adoro o que faço, adoro o tema em que eu trabalho, e se pudesse estaria em campo a vida inteira, junto dos Guarani.... Mas, agora, neste momento fatídico em que tenho de literalmente 'parir' a tese, me sinto esgotada e enjoada... Não tenho vontade alguma de escrever...
Sei que não é o tema, nem o trabalho de campo, nem tampouco a causa - que por esta sou capaz de enfrentar mil batalhões - mas sim a pressão e o desassosego de estar numa instituição em que meu trabalho não tem valor... Meu orientador diz não entender o que faço - e isso é um sério problema... - a instituição apenas quer algo pronto pra contabilizar em seu curriculo.... e eu me sinto sozinha!!!
Sinto não ter quem realmente compartilhe dos meus anseios, das minhas vontades, do que realmente quero dizer e fazer com esse trabalho, com toda essa pesquisa e com as análises e possibilidades que ela poderia trazer.
Não queria fazer apenas um trabalho para seguir criando pó e teias de aranha numa biblioteca acadêmica, queria algo que pudese fazer sentido e ter uso prático na causa das demandas indígenas sobre a demarcação de suas áreas territoriais... Mas, a academia espera de mim apenas mais do mesmo... e isso é tão frustrante!!!
Mas, desde minhas crises de choro, minha vontade de sumir ou desistir... eis-me aqui, escrevendo a 'maledeta'. Esse é o nome dado a porcaria da minha tese... que será apenas mais um monte de papel pra criar pó e teias de aranha numa biblioteca...
Se consigo hoje escrever a dita cuja é porque cheguei a triste conclusão de que ela não será o trabalho da minha vida, nem terá a validade esperada... simplesmente me dará a porcaria de um titulo, que por mais que eu ignore, é o que as 'personas' da academia esperam de mim...
Me pergunto: o que é ser doutora? Que diferença fará isso na minha personalidade ou nas minhas ações?
Eu respondo: No que sou hoje, nenhuma diferença, continuarei sendo eu mesma, com meus sonhos e minhas lutas ....bebendo minha cerveja e meu vinho com meus amigos e falando palavrões....
Na minha carreira? Sim, se abrirão portas... infelizmente, porque na academia, apenas os 'escolhidos' tem voz... por menos que façam... é assim que é...
Não quero e não vou deixar isso tudo me contaminar, mas sei que depois de um maldito título me olharão diferente.... não pelo que sou ou pelo que faço, mas pelo próprio título em si... apenas um papel pra mim... para eles...a imortalidade!!!
Que fútil....
Depois que toda essa pressão acabar, e que eu finalmente puder pensar como um ser humano normal, quero rever tudo que escrevi na 'maledeta', e aí sim... esboçar aquilo que acredito ser importante para a causa... para que se possa realmente usar daquilo que escrevi em prol de questões palpáveis e reais.. não para academia que espera apenas mais um texto rebuscado e cheio de firúlas inúteis....
Ando precisando mais do que nunca encontrar aquela florista na esquina e dela comprar uma Flor de Miosótis, pra olhar e olhar a beleza azul da florzinha e ver se esqueço a feiura do mundo......apenas por instantes.....

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

A MEMÓRIA NA PONTA DA LÍNGUA

Texto de Fabiano Maisonnave, publicado na Folha de São Paulo (07/06/1998).
História da História Oral:
O uso de entrevistas como fonte histórica está longe de ser novidade. Heródoto, considerado o pai da história, já utilizava como fonte para seus escritos, na Grécia do 5° a. C. Mais recentemente, no século 19, Jules Michelet precisou de depoimentos para compor a sua 'História da Revolução Francesa'.
A história oral como é conhecida hoje começou a se desenvolver a partir da invenção do gravador, que facilitou a realização de entrevistas e possibilitou a criação de arquivos de fontes orais.
O primeiro centro de história oral foi fundado há 50 anos na Universidade Columbia, em Nova Yark. Hoje, o centro de Columbia é o maior do mundo, com 15 mil horas de entrevistas. Segundo Ronald Grele, diretor do centro, quase 2000 livros já foram escritos a partir da coleção de entrevistas.
No Brasil, apesar do crescimento, a história oral ainda tem pouca visibilidade, sobretudo por se tratar de um campo recente. Por aqui, pode-se dizer que a história oral teve três 'começos': dois na década de 70 e depois nos anos 90.
A primeira experiência dentro do país começou no CPDOC (Centro de Pesquisa e Documentação da História Contemporânea do Brasil), ligado à Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. Em 1975, o CPDOC criou, em pleno regime militar, o seu programa de história oral, nos moldes da Universidade Columbia.
Atualmente, o CPDOC tem um acervo de cerca de 3000 horas gravadas, constituído sobretudo de depoimentos de personalidades da elite política e militar brasileira. Na mesma época, uma outra história oral brasileira surgia, mas do lado de fora: trata-se do trabalho de Pedro Cavalcanti e Jovelino Ramos, que, no exterior, entrevistaram exilados do regime militar.
A explosão da história oral só veio a ocorrer nos anos 90, quando pesquisadores que trabalhavam com fontes orais passaram a organizar encontros e trocar experiências, culminando na criação, em 94, da Associação Brasileira de História Oral (ABHO).
A partir desse momento, predominaram trabalhos que visassem grupos sociais cuja história dificilmente seria escrita a não ser por meio de fontes orais: analfabetos, favelados, garimpeiros, índios.
'A grande força da história oral é que ela pode recuperar segmentos da sociedade que de outra forma se perderiam', diz Antônio Torres Montenegro, professor de história da Universidade Federal de Pernambuco e presidente da ABHO. Para ele, a história oral está mudando a noção de que a história começa com a escrita.
Apesar de não haver nas universidades brasileiras linhas de pesquisa em história oral, vários centros têm sido criados - casos do NEHO (Núcleo de Estudos em História Oral), da USP, e do Centro de Memória, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A constituição de acervos de entrevistas também tem crescido. Em São Paulo, há arquivos desse tipo no Museu da Imagem e do Som, no Arquivo Histórico Judaico-Brasileiro e até na internet - no site Museu da Pessoa (www2.uol.com.br/mpessoa/).

Conceito gera confusão:
Pelo fato de ser ainda um campo recente, de ter se espalhado rapidamente e de agregar pessoas de diversas áreas - historiadores, sociólogos, educadores, linguistas - uma definição mais clara do que é historia oral ainda está longe de um consenso.
Mesmo Alessandro Portelli, maior referência sobre o assunto, tem dificuldades em dizer qual a melhor definição de história oral.
Para Meihy, autor de um manual de história oral, uma pesquisa nesses moldes passa pela existência de um projeto que comporte uma série de procedimentos metodológicos, envolvendo a edição da entrevista e uma conferência do texto final com o depoente.
É por isso, diz Meihy, que o livro 'O Presidente segundo o Sociólogo' que traz um entrevista com Fernando Henrique Cardoso, não pode ser considerado um livro de história oral. 'Ele se propõe apenas a ser um conjunto temático de reflexões que se organizam para mostrar um determinado posicionamento', diz Meihy.
Para o antropólogo Celso Castro, pesquisador do CPDOC e um dos entrevistadores do livro 'Ernesto Geisel', a história oral é apenas uma metodologia para a criação de uma nova fonte, que deve ser cruzada com outras fontes mais tradicionais.
Outra diferença, para o pesquisador, é que o entrevistado participa da elaboração do texto final, como aconteceu com Geisel, que revisou o depoimento duas vezes.
O que há de consenso na confusão teórica é que as fontes orais abriram possibilidades de estudar temas e grupos a partir de perspectivas diferentes. As entrevistas permitem, assim, que conhecimento histórico avance em espaços até então pouco ocupados.
Um dos casos mais interessantes é o de Mercedes Vilanova, da Universidade de Barcelona e presidente da Associação Internacional de História Oral. Ela pesquisou a participação eleitoral na Catalunha em 1934.
Até o seu estudo a historiografia afirmava que a derrota da coalizão de esquerda naquela região devia-se à abstenção dos anarquistas. A vitória ficou para a direita, cujo governo, que durou até 36, gerou um dos períodos mais difíceis da história espanhola, conhecido como 'biênio negro'.
Baseando-se em depoimentos, Vilanova revelou que houve outros motivos: a baixa participação dos analfabetos nas eleições e a coação de donos de fábrica para que os funcionários votassem.
'Quando, depois de anos trabalhando nos arquivos, decidi realizar o 'trabalho de campo', o mundo bibliográfico no qual até então estava me baseando virou papel morto', escreveu a oralista no livro 'Las Mayorías Invisibles', de 1996.
 

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Povos Indígenas do Rio Grande do Sul: mais um capítulo de desrespeito aos seus direitos.




A Constituição Federal do Brasil, no caput do Artigo 231, diz: "São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens". Essa norma define não apenas um conjunto de direitos indígenas, como também a responsabilidade direta e intransferível da União no que tange à garantia da terra. Assim sendo, as possibilidades de intervenção ou ingerência de governos estaduais e municipais em procedimentos de demarcação de terras ficam restritas. Essa norma estabelece os limites e possibilidades de intervenção ou ingerência de governos estaduais e municipais no que tange à demarcação de terr as e às políticas a serem desenv olvidas para povos e comunidades indígenas em âmbito nacional.
Além da União, os demais entes da federação podem colaborar, em articulação com o Governo Federal e cumprindo todas as normas legais, nas ações e serviços a serem executados nas áreas de saúde, educação, atividades produtivas dentro das terras indígenas. É vedado, no entanto, que estados e municípios interfiram nos procedimentos de demarcação através da imposição de critérios e/ou instrumentos que não estejam previstos nas normas administrativas definidas pela União, e esta, por sua vez, precisa se organizar, se estruturar e garantir orçamento para implementar tais normas.
O debate que vem sendo proposto no Estado do Rio Grande do Sul sobre a temática indígena e a demarcação de terras (dos indígenas e quilombolas) assume um viés ideológico e utilitarista extremamente perigoso: em nome de um modelo de desenvolvimento baseado na ampliação da produção, especialmente a agrícola, se pretende restringir os direitos territoriais das comunidades tradicionais, condicionando a demarcação a um pressuposto de produtividade presente e futura. Em outras palavras, querem atrelar os direitos originários sobre as terras a um modelo de produção que se concretiza através da exploração máxima dos recursos, desrespeitando-se, de uma só vez, dois preceitos constitucionais: o reconhecimento aos índios de sua organização social, costumes, línguas, crenças e tra dições, e os direitos origin ários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, e o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nas terras por eles ocupadas (caput e § 2º do Art. 231). É a tentativa de colocar as terras indígenas à disposição do mercado explorador e predatório.
Para dar respaldo a esta proposição, adquirem visibilidade certos discursos que vitimizam os pequenos agricultores com a alegação de que sofrerão prejuízos com a demarcação das terras. Argumenta-se que, no caso do Rio Grande do Sul, os agricultores compraram as terras e possuem os títulos de propriedade sobre as áreas reivindicadas pelos "índios e quilombolas". E, além disso, se acrescenta ao argumento da propriedade o fato de que os agricultores produzem nas terras a serem demarcadas o alimento que a população consome.
Três questões importantes devem ser colocadas em relação a esta linha de argumentação: a primeira é que os povos indígenas não estão sendo considerados no debate como sujeitos de direitos. Ao contrário, são tratados como o problema ou o obstáculo a ser removido; a segunda é que, ao estabelecer a polarização agricultores versus indígenas/quilombolas, cria-se um conflito entre os pequenos quando, de fato, há grandes interesses implicados. E a terceira questão é que, para o modelo econômico, os indígenas e quilombolas são tidos como improdutivos e, portanto, não cabe a eles o direito à terra.
É com essa intenção que a CNA (Confederação Nacional da Agricultura), uma espécie de ONG do latifúndio e do agronegócio, promove a discussão em torno da questão indígena no Brasil. Ela promove um grande lobby no Congresso Nacional visando mudar o Artigo 231 da Constituição Federal e utiliza sua influência política e econômica para pressionar os governos nas esferas municipais, estaduais e federal. Para a CNA a legislação que protege os direitos dos povos indígenas e quilombolas se constitui em instrumento limitador da lucratividade daqueles setores que ela, de fato, representa. E, por sua vez, os latifundiários e as empresas produtoras de soja, milho, cana-de-açúcar, arroz e eucalipto nutrem grande expectativa em torno das pretensas mudanças na legislação indigenista, quilombola e ambiental, a partir desta ofensiva política e ideológica da CNA.
Não se trata, neste debate, como afirmam prefeitos, deputados, senadores, secretários de Estado e as matérias escritas ou televisivas da mídia, de um conflito entre "pequenos proprietários rurais", indígenas e quilombolas, e sim um conflito entre modelos de produção diferentes um que prima pelos direitos das pessoas e pelo meio ambiente e outro que propõe a máxima produção e a maior lucratividade. Vale ressaltar que a maioria dos países desenvolvidos, que experimentam hoje o amargo sabor da crise, já estabeleceu medidas para conter o ímpeto produtivista e apelam para formas menos nocivas de produzir e de consumir.
O conflito estabelecido no Rio Grande do Sul não decorre da legislação propriamente, e sim dos interesses sobre as terras e as formas de entender sua função social. Há um forte investimento discursivo no sentido de culpabilizar os povos indígenas e quilombolas, quando a solução depende exclusivamente da vontade política e de uma eficaz ação do governo para, de um lado, demarcar e fazer respeitar as terras tradicionais destes povos e comunidades e, de outro, buscar soluções concretas e plausíveis para os problemas dos agricultores que foram assentados em terras indígenas. Cabe, neste debate, bom senso, disposição política e, mais do que isso, destinação de recursos financeiros para pagamento das indenizações dos afetados e o cumprimento da legislação estadual que determina que o Estado deve indenizar as famílias assent adas em áreas demarcadas ou em demarcação.
Lamentavelmente, no Rio Grande do Sul, este tema vem sendo matizado por pressões políticas da CNA e pelo impulso da mídia. O governo estadual entrou no jogo de interesses e, em virtude disto, classifica os direitos indígenas como problemas. Volta-se contra a Constituição ao invés de agir através dela. As reuniões promovidas para debater e questionar os direitos indígenas e quilombolas sem ouvi-los atenta contra princípios elementares de democracia e afronta a Convenção 169 da OIT (Organização Internacional do Trabalho).
Essa atitude de desconhecer ou ignorar as comunidades indígenas tem se constituído em prática corriqueira dos administradores do Estado. A realização da audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura do Senado Federal, em 21 de outubro, na Assembleia Legislativa, foi uma das etapas dos "debates" com a exclusão das populações diretamente afetadas pelas propostas que se anunciam. Vale relembrar que neste evento reuniram-se centenas de agricultores e representantes do agronegócio e que os povos indígenas e comunidades quilombolas sequer foram convidados. Eles participaram por iniciativa própria e, ao se pronunciarem publicamente, foram veementemente vaiados.
No dia 27, seis dias depois, a Casa Civil do governo do Estado promoveu um encontro do Secretário de Desenvolvimento Rural, Ivar Pavan, e outros governistas para dialogar com agricultores e políticos do Rio Grande do Sul sobre as demarcações de terras. Mais uma vez, nenhuma liderança indígena foi convidada.
O fato mais revoltante, associado a esta última reunião, foi o anúncio de que o Governo Federal, através da Funai, e o governo do Estado firmaram um Termo de Cooperação com vistas a por fim aos problemas. Um dos itens deste termo é a suspensão de todas as demarcações de terras indígenas em processo no Estado. Ivar Pavan foi enfático ao dizer que não vão aceitar nenhuma demarcação de terra enquanto não forem atendidas as demandas dos agricultores. Informou ainda que o governador Tarso Genro exigiu do presidente da Funai a imediata paralisação de todas as demarcações de terras. Entende-se, assim, porque Tarso Genro, enquanto exerceu a função de ministro da Justiça, não demarcou nenhuma terra indígena no Rio Grande do Sul.

É importante salientar que essa proposta não passa de retórica, uma vez que não compete ao governo estadual requerer a suspensão de demarcações de terras, posto que, no item XIV do Artigo 22 da Constituição Federal se estabelece a competência privativa da União para legislar sobre as populações indígenas. Caso a Funai se submeta a pressões políticas estará agindo contra os interesses da União e poderá ser responsabilizada por não cumprir com as atribuições que lhe são imputadas e que definem, em grande medida, a sua função e a razão de sua existência.
Outro exemplo que reafirma a postura intransigente do governo com relação aos povos indígenas vincula-se à criação de um Grupo de Trabalho, no âmbito da Casa Civil do Estado, para "Avaliação e formulação de alternativas para as áreas indígenas e o aperfeiçoamento das políticas públicas destinadas às comunidades indígenas no âmbito do Estado do Rio Grande do Sul", sem a necessária presença ao menos de um representante indígena.
Os resultados deste grupo de trabalho foram apresentados através de um relatório que visa, entre outras coisas, enaltecer a gestão do ex-governador Olívio Dutra que ocorreu há 10 anos. O relatório omite as ações dos dois governos subsequentes; anuncia que a partir do próximo ano serão resolvidas as questões através da liberação de verbas financeiras, especialmente para a indenização das famílias não indígenas que vivem sobre terras demarcadas, e que serão investidos recursos públicos para acabar com o déficit habitacional nas áreas indígenas.
Se o governo do Estado assim procedesse, estaria apenas cumprindo uma obrigação legal que é indenizar famílias de agricultores que foram assentadas indevidamente nas terras indígenas (por culpa do Estado) e auxiliando o Governo Federal a melhorar as habitações indígenas.
Mas não é o que de fato vem ocorrendo. O relatório apresentado pelo GT da Casa Civil expressa, na página 11, o seguinte:
"De outra banda, ainda que se trate de matéria diversa àquela que exclusivamente compete à Casa Civil, registramos de forma consensuada com todas as secretarias e integrantes da base do governo, a permanente necessidade de reformatação legislativa do CEPI, bem como opinamos pela imediata substituição de sua coordenação, a qual vem reiteradamente articulando as comunidades indígenas em desfavor da institucionalidade, além de empreender conduta denuncista junto ao MPE, MPF e FUNAI abdicando de, efetivamente, buscar construir de forma coletiva as soluções que se impõem àquela coletividade".
Sem nenhuma dúvida, este parágrafo visa cercear e impor limites à atuação do CEPI (Conselho Estadual dos Povos Indígenas). Este Conselho foi criado pelo governo do Estado e deveria se constituir num espaço de controle social a ser exercido pelas lideranças e representantes indígenas, e se constituir em fórum de discussão das políticas destinadas às populações indígenas, bem como para pensar e planejar as ações do Estado tendo em vista sua contribuição junto ao Governo Federal na execução das políticas públicas. Além disso, o CEPI deveria acompanhar e fiscalizar o Governo Federal no que se refere aos procedimentos de demarcação das terras, a sua proteção e fiscalização.
Alega-se no relatório da Casa Civil que o CEPI está empreendendo uma postura denuncista e faz um desfavor a institucionalidade. Lamentável que uma manifestação desta tenha origem em um grupo de trabalho constituído por servidores e assessores de um governo dito "democrático e popular". Lamentável que haja censura a um Conselho do Estado quando este cumpre com suas atribuições. É também lamentável que o relatório tenha sido acatado de forma imediata, sem nenhuma discussão ou debate com os demais conselheiros (17 indígenas Kaingang, 17 Guarani e um Charrua) quanto à substituição de sua coordenação. Vale ressaltar que a coordenação é composta por um representante Guarani, um Kaingang e uma secretária executiva, cargo e função designados pelo governo do Estado. A secretária executiva Sônia Lopes foi afastada do Cepi no dia 26 de outubro de 2011.
Santiago Franco, uma das lideranças do povo Guarani no Estado do Rio Grande do Sul, mesmo sem ter sido convidado para participar de reunião (27/10/2011) promovida pelo governo com os representantes dos agricultores e políticos, depois de ouvir os discursos contra os direitos indígenas, pediu permissão para falar e, com lamento, se pronunciou: "Se suspenderem as demarcações, que já têm processos muito demorados, qual será o futuro das comunidades indígenas? Vamos continuar por mais 100 anos em barracos de lonas, na beira das estradas? Essa atitude do governo em pedir a paralisação das demarcações vai afetar a nossa vida, vai matar mais o nosso povo".

É esta a solução que o governo do Estado do Rio Grande do Sul propõe para os problemas indígenas e quilombolas?

Porto Alegre, RS, 2 de novembro de 2011.
Roberto Antonio Liebgott
Cimi Regional Sul - Equipe Porto Alegre