Há
dois anos não escrevia aqui. Há dois anos...
Sempre que retomo o blog sinto necessidade de explicar porque escolhi esse nome, pois ele é significativo demais pra ser apenas o nome do blog... ele é a fuga da Agnes no livro que deu origem a este diário virtual... e sim... eu amo aquele livro.
No
entanto senti vontade de retomar o blog.. retornar a escrever minhas ideias e
inquietações e reativar a Flor de Miosótis. Não que os motivos sejam os mesmos da origem, mas ainda assim a vontade de gritar ao mundo me faz escrever... e escrever alivia as tensões e dá um jeito de organizar a desorganizada cabeça dessa ariana aqui.
Estou fazendo mudanças na vida.. mudanças que requerem organizações... vou precisar do blog novamente...
Lembro
que criei o blog exatamente porque precisava gritar... estava lá, em 2009 vivendo numa tempestade de sentimentos, angustias, incertezas... Num
relacionamento confuso, onde me sentia bem como a Agnes do livro do Kundera,
presa, vendo a feiura do mundo a minha volta e me sentindo presa, acorrentada
aos padrões da vida.
A
sociedade em geral nos obriga a seguir os tais padrões e quando menos esperamos
estamos ali feito ovelhas obedecendo a tudo e a todos. É difícil cortar essas
correntes, pois acabamos sendo apontados como loucos, desordenados,
incorretos...
Mas
viver nesses padrões e ver a feiura do mundo é impossível. Somente quando somos
cegos e não notamos os gestos, as delicadas sutilezas das coisas ao nosso
redor, podemos viver nos padrões, como ovelhas, na mesmice do lugar comum.
Minha
identificação tão profunda com as personagens de Milan Kundera são por isso...
essas mulheres que ele cria em seus textos são fortes, intensas... e não estão
ancoradas na mesmice do mundo, mas sim olhando pra esse mundo com olhares
perspicazes, esmiuçando os detalhes, as sutilezas e tecendo criticas...
buscando mudanças...
Quando
disse que criei o blog porque precisava gritar... era exatamente o que queria
fazer: GRITAR!!!
Dizer
: Me veja, me olhe como eu sou... olhe pra mim... pra dentro de mim... não
tente apenas ver minha casca, minha embalagem... não determine em mim o que
você quer, mas olhe pra mim... me enxergue por favor!!!
Vivemos
relações fúteis. As pessoas se negam a olhar as outras como estas são realmente
e preferem ver apenas o que querem ver. Olhar para espelhos é mais fácil do que
encarar realidades que vão confundir e rebentar com suas certezas. Eu vivia um
relacionamento de espelhos. A pessoa ao meu lado me enxergava como seu reflexo,
ou ao contrário se refletia em mim ou naquilo que queria que eu fosse. Não
entendia meus sinais, não me via de verdade, não conseguia observar os gestos e
as minhas sutilezas... e eu estava sufocando... bem ali ao lado dele...
sufocando e me debatendo na minha falta de ar... e ele não via.
Gritar
num blog foi um alívio. Não foi entendido pelo companheiro como esperado por
mim, que ele enxergasse meu pedido de socorro, mas resultou para mim a voz que
eu precisava soltar para não morrer sufocada na minha solidão. E isso me deu
fôlego pra seguir, pra pensar, pra organizar ideias e finalmente me libertar
daquilo.. me libertar do meu sufocamento, da coisa que me prendia...
Hoje
grito.. e grito alto...a sociedade tende a nos sufocar sempre... há sempre
amarras, coisas pré determinadas que nos fazem seguir como ovelhas num brete,
mas há formas de mudar os caminhos, sempre há... basta não ser normal.. não
seguir os padrões que nos são impostos, não ligar pras falas e olhares
reprovadores... gritar DANE-SE...
Ser
livre é a maior e melhor escolha a se fazer, mas implica na maior e melhor
responsabilidade também. Ser dono de nós mesmos requer maturidade. Maturidade
esta que não está associada a rigidez, a ser sisuda e mal humorada, a ser séria
e carrancuda... não... maturidade pra reconhecer erros, pra rir deles, pra
tentar de novo, pra fazer o que nos dá vontade não importando o que vão pensar
ou falar a nosso respeito, pra vestir o que nos dá prazer, pra colher uma flor
no parque e colocar no cabelo, abraçar um desconhecido na rua e dar bom dia,
dançar na chuva, andar descalça, comer algodão doce no parque de diversões...
enfim, maturidade pra se deixar ser feliz, pra se permitir ser quem somos da
melhor maneira possível e da forma mais escancarada...
Desde
que minhas amarras foram cortadas e me vi livre não quero nunca mais voltar pra
nenhuma gaiola, pouco me importa se aos olhos da sociedade sou louca... ser
louca é a maior prova de amor que já dei a mim mesma.
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