sábado, 8 de agosto de 2009

Reflexões sobre os espelhos das almas....



Imagens... imagens... imagens..


Refletem toda hora uma nova dimensão do ser. Cada recorte de tempo e espaço impresso numa fotografia, congelando um momento preciso e um rosto... um gesto... uma expressão... uma coisa.


As imagens são reflexos da alma. Mas de uma alma congelada...de uma escolha minha para buscar aquele momento em outros momentos em que aquilo que aconteceu não pode mais ser repetido.


Nas fotos de campo congelo meus momentos. Congelo os gestos e os rostos daqueles que busco entender...


Vejo agora momentos do passado na aldeia Guarani, onde pessoas e coisas que antes estavam lá... não mais estão...o tempo passou... o espaço mudou... as pessoas e coisas se transformaram apenas em imagens congeladas nas minhas fotografias.


É um brincar de estátua... eu congelei aqueles momentos para a perpetuação deles. Poder repeti-los agora... dois, três anos depois.


Mas, e então? Como pensar nas imagens obtidas em campo?


São documentos... sem dúvida. Mas são escolhas. Eu, pesquisadora, escolhi o ângulo e a forma em que essas imagens seriam apresentadas ao mundo.


Quem são essas pessoas que apresento na imagem da foto? Que são essas ações mostradas...esses lugares... esses objetos?


São apresentações do real? Ou apenas recortes detalhadamente preparados por mim para apresentar minhas intenções ao mundo dos não-Guarani?


Analiso cada foto... cada momento... e me recordo das coisas ditas e não ditas... do que se passou logo após a foto... do que não foi enquadrado na foto. Aquilo que ficou fora do foco... aquilo que ficou fora da minha escolha.


Apresentar uma foto como documento de 'verdades' sobre algo, implica em muito, apresentar o fotografo... e suas intenções ao registrar aquele momento.... de outra forma, a fotografia perde seu significado. Ela não é 'verdade' por si mesma... ela apenas reflete - como num espelho - uma imagem invertida. Mas a escolha diz o porque. É nela que poderemos entender a lógica da imagem... o autor da foto é que me dá a dimensão do documento, pois saberei, através dele, porque aquele momento foi congelado e não outro....


Uma imagem pode mentir... uma imagem pode distorcer... pois a fala não a acompanha... apenas as escolhas.


Então, como analisar as imagens fotográficas na etnografia? Poderia eu dizer que estes personagens apresentados na imagem da foto são os Guarani?


Não.


Estes são os Guarani de papel... aqueles que eu trasporto para um caderno de descrições.... para páginas brancas de um computador, e que depois ilustrarão os textos de um tese... de uma pesquisa dita científica... e que se transformarão em 'conhecimento' para a minha sociedade.


Os Guarani de verdade... ah... estes vão continuar lá, vivendo suas vidas e se transformando diariamente como qualquer ser humano...


Os Guarani de verdade nunca vão estar congelados nas minhas fotografias de campo...


Ainda bem.


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