sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Das sutilezas e alguns respingos de incertezas....


Voltamos aqui a tentar desvendar os misterios que povoam as coletividades ameríndias. Suas sutilezas e nossas incertezas.

Continuo ávida na leitura das formas como os Guarani constroem seu espaço no espaço territorial que ocupam... Que paisagens são essas? Que territórios são esses?

Quanto mais me aprofundo, mais percebo a complexidade desses conceitos, e a dificuldade de aplicá-los em grupos humanos tão diversos. São conceitos criados a partir da percepção da sociedade cristã-ocidental... e mais, são conceitos 'científicos', que dificilmente levam a sério questões ligadas a cosmologia e a simbologia ameríndia... mais precisamente o mito.... os fetiches...(tantos outros conceitos criados pela sociedade científica e ocidental).

Que são esses mitos? Como explicam o mundo para essas coletividades humanas?

Será que podemos entendê-los usando nossos métodos científicos?

Talvez sim.... em parte... Talvez não.... em grande parte....

Compreendo que para entender os mitos - e consequentemente as categorias ameríndias para tornar o mito conhecimento - preciso entender as filosofias de vida que perspassam a rede de relacionamentos que caracteriza os Guarani como um grupo étnico.

E não só isso: preciso compreender todas as identidades que se conluiam dentro desse grupo étnico.

Preciso aprender a pensar Guarani. Sonhar Guarani. Cantar Guarani.

Sinto que jamais compreenderei de todo essa complexa rede relacional...

Mas tenho que me abrir a pensar os mitos como conhecimento e história... não como 'fetiches'....

O mito é real... não tem nada de abstrato. Ele explica o mundo e as coisas do mundo, na leitura que essas pessoas e esse coletivo fazem do mundo. É aí que está a questão...

Como pensar como um Guarani?

Eu não nasci lá naquela aldeia... não aprendi minhas primeiras palavras a partir da maneira como se fala na casa de um Guarani... não aprendi como as coisas de um Guarani se relacionam com ele... não aprendi a dominar essa cultura... e a ser dominado por ela..

Mas eu posso me abrir a ela. Posso olhar de um jeito menos pronto e menos modelar pra ela ... posso ver além... além daquilo que está para ser visto.... além do material.

Quero ver através do material... perceber o que ele carrega no centro.... nas estruturas e nas redes práticas do dia a dia. Ver o material reagindo e agindo sobre o humano. Ele se cria a partir das visões de mundo e reage sobre as ações de quem o manipula...

Assim, não há materiais amorfos... inertes. Tudo tem vida, pois a vida cerca esse todo... essas paisagens são vivas por que humanas são... os desenhos nas cestas, construídas pelas mãos hábeis de mulheres e homens, tem vida, pois humanas são....

Cada objeto reaje a quem o manipula e o constrói. Ele é vivo, por que é criado por um ser vivo... e o mito o explica... e explica a vida.

Então... pensar Guarani depende do quanto eu vou conseguir reagir às coisas e as humanidades delas na minha trajetória rumo ao centro dessas coletividades.

Aguyjevete...

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